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Missa de Baldi editada

Câmara da Guarda lança amanhã registo ao vivo do concerto de 27 de Novembro na Sé

Fenómeno raro em Portugal, a Câmara da Guarda edita amanhã à noite o registo digital do concerto “Missa para Coro, Solistas e Orquestra”, de João José Baldi. Uma peça escrita em 1801 e que teve estreia moderna na Sé no passado dia 27 de Novembro pela Orquestra Filarmonia das Beiras, Coro Aeminium e sete solistas, sob a batuta do maestro António Vassalo Lourenço. Um recital magistral que coroou as celebrações dos 804 anos da cidade e proporcionou a gravação para a posteridade de uma autêntica obra-prima da música erudita nacional, escondida até então no parco espólio musical da Catedral que sobreviveu às invasões francesas.

A partitura foi recuperada pelo padre José Pinto Geada, para quem esta peça de Baldi (1770-1816) é uma «obra de fôlego» do estilo italiano em Portugal. A “Missa” abre com uma Sinfonia, prossegue com os habituais Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus-Benedictus e Angus Dei. Temas interpretados durante perto de duas horas pela Filarmonia das Beiras, o Coro Aeminium e os solistas Carla Reis e Catarina Borga (sopranos), Natália Brito e Isilda Margarida (mezzo sopranos), Marco Santos e Tiago Pereira Bastos (tenores) e Nuno Dias (baixo) no cenário monumental da Sé. O evento acabou por ser uma dupla celebração, já que o compositor, um dos mais notáveis do século XVIII, iniciou a sua carreira na catedral guardense. João José Baldi continua a ser uma personagem misteriosa na história da Sé, muito por culpa dos soldados franceses que incendiaram o arquivo e impediram assim um conhecimento mais aprofundado da obra de um dos mais importantes Mestres de Capela que por aqui passou. Filho de Carlo Baldi, músico italiano que trabalhou na Corte, iniciou a sua carreira em 1789 na Guarda com apenas 19 anos. Aqui foi Mestre de Capela, do Órgão Grande e da Escola de Música até 1794, sendo o artífice do apogeu musical do templo.

João José Baldi, que também foi cantor, organista e pianista, passou posteriormente pela Sé de Faro, compôs para seis órgãos simultâneos para a Basílica de Mafra e, a partir de 1800, fixou-se definitivamente em Lisboa, tocando na Capela Real da Bemposta, na Sé Patriarcal e no Seminário. A sua música religiosa, afeiçoada ao gosto italiano, teve grande divulgação em Portugal e no Brasil, sendo sobretudo apreciado pelo brilho e originalidade das suas composições. No caso desta “Missa”, escrita em 1801 em Lisboa, a partitura original foi adaptada por Pinto Geada às características e composições das actuais orquestras clássicas e proporcionou o regresso de Baldi à cidade graças a um espectáculo ímpar. Um momento que vai estar agora ao alcance de todos. A sessão de apresentação do disco decorre no auditório do Paço da Cultura.

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