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Ministério na “mira” de reitor da UBI

Sessão solene do 21º aniversário da universidade marcada por discurso crítico de Santos Silva

Sem qualquer membro do Governo na sessão solene do 21º aniversário da Universidade da Beira Interior (UBI), o reitor criticou a redução de verbas por parte do Estado. Num longo discurso proferido no grande auditório da Faculdade de Ciências da Saúde, Santos Silva acusou ainda o Ministério da Ciência e do Ensino Superior de «descriminação» quanto à atribuição de mestrados integrados.

«Criou-se a ideia, sobretudo nos cursos de Engenharia, que só as universidades com determinadas performances no domínio da investigação teriam como prémio essa forma de organização dos estudos, tentando, assim, criar “rankings” entre escolas de Engenharia», acusou. Uma política que o reitor da UBI considera «errada» e que «penalizou imenso algumas instituições em termos de imagem». Realçando que as universidades passam actualmente por uma fase «complexa e de extrema exigência», Santos Silva constatou que, «ao contrário do que seria desejável», o investimento real no ensino superior em Portugal tem vindo a diminuir nos últimos anos. De resto, para além da «diminuição em absoluto do financiamento», criticou também a «forma lamentável» como este tem sido distribuído pelas instituições. Nesse sentido, o reitor realçou que o financiamento transferido para a UBI é, por aluno, «dos mais baixos» do conjunto das universidades públicas. Por outro lado, «não têm sido atribuídas vagas em áreas estratégicas, o que poderá conduzir à extinção, no interior do país e na nossa instituição, de formações nas áreas das Ciências Exactas e da Engenharia», avisou.

O reitor sublinhou ainda que a UBI foi a «única universidade a crescer de forma continuada em número de alunos de graduação» e que tem crescido em «áreas estratégicas», como na Saúde, Artes e Tecnologias, «em que o custo por aluno é mais elevado». Contudo, o Orçamento de Estado transferido tem vindo «a decrescer ao longo dos anos», apresentando uma diminuição nominal por aluno de cerca de 10 por cento de 2006 para 2007, mas que se traduz, «em termos reais, num corte superior a 17 por cento», assegurou. Aliás, «há cinco anos que os orçamentos não são reforçados com as actualizações salariais».

Santos Silva assegurou que «apesar de jovem e preocupada com a sua instalação, consolidação e formação do corpo docente, a UBI não esqueceu a dinamização da investigação, e que por isso mesmo o «Governo e os avaliadores deveriam ter em consideração a idade, o estado e a localização das instituições na atribuição do financiamento», o que não tem acontecido na sua opinião. Prosseguindo num tom crítico, realçou que a UBI tem 15 Unidades e Centros de Investigação ligados a todas as áreas, mas o financiamento «nem sempre chega ou muitas vezes chega com um certo atraso, incompatível com a estabilidade que é requerida para a produção científica». E frisou que a «precariedade de financiamento, o Processo da Bolonha, o registo de mestrados integrados e a atribuição de vagas» provocam «alguma apreensão às instituições de ensino superior localizadas no interior, podendo mesmo pôr em risco a sua sobrevivência se não forem tomadas medidas de descriminação positiva por parte do Governo». Falando em «”supermercado da educação», Fernando Jesus, presidente da Associação Académica, também criticou a redução do investimento nas universidades e lançou uma “farpa” a Santos Silva: «Quando propomos e contestamos, apresentamos alternativas e questionamos, vemos as portas fecharem-se, como é o caso dos apoios prometidos e tantas vezes solicitados à UBI e que, passados cinco meses da nossa tomada de posse, ainda não nos foram concedidos», lamentou.

Ricardo Cordeiro

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