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Menos que Zero

A faculdade …

Questões profissionais mantiveram-me afastado destas páginas durante quase dois meses. O apelo dos leitores e a conclusão de algumas tarefas permitem-me regressar à escrita na semana em que decorreu uma importante cerimónia para o país e, sobretudo, para a região: a inauguração da Faculdade de Ciências da Saúde da UBI.

Há oito anos, quando várias universidades disputavam as duas novas faculdades de Medicina, a UBI era considerada uma fraca candidata a acolher uma das escolas. Porém, contra algumas expectativas, a Universidade desenvolveu um projecto de ensino inovador que, muito justamente, foi premiado com a atribuição da actual Faculdade de Ciências da Saúde.

Apesar da inequívoca qualidade do dossier apresentado pela UBI, foram muitos os que puseram em causa esta escolha, acusando António Guterres e José Sócrates – ambos com raízes beirãs – de terem feito uma escolha política. Cerca de seis anos depois, e apesar do período de crise que o país atravessa, a mais pequena Universidade de Portugal continental provou a justiça da decisão governamental. Todas as dificuldades – e acreditem que não foram poucas – acabaram por ser superadas e, no dia do seu 20º aniversário, a UBI inaugurou o novo edifício da Faculdade de Ciências da Saúde.

Os “velhos do Restelo” que sonham com a litoralização do país perderam outra batalha e as gentes do interior, através da UBI, mostraram mais uma vez a sua capacidade empreendedora.

… e a maternidade

Com a Medicina em destaque e o primeiro-ministro na Covilhã, o encerramento de uma das três maternidades desta região acabou por ser um dos assuntos do dia.

A procissão ainda vai no adro, mas parece-me que a estratégia seguida na Covilhã não tem sido a melhor: lutar apenas pela manutenção da maternidade covilhanense gera rivalidades regionais, oferecendo trunfos a um Governo que “decidiu não decidir”, passando a batata quente às entidades locais.

“O Interior” tem sido um bom exemplo da estratégia mais correcta: defender que a região deve manter as actuais três maternidades: Guarda e Castelo Branco pela localização geográfica, a da Covilhã por se tratar de uma unidade universitária, argumento que nenhuma das outras maternidades em risco de encerramento pode utilizar.

A melhor estratégia passa pela organização de acções de protesto onde os habitantes de toda a região participem conjuntamente. Actuar isoladamente é um erro que só enfraquece o movimento, facilitando a vida ao Governo.

Outro erro é tirar esta luta da esfera dos movimentos cívicos. Contrariamente ao que aconteceu noutras cidades, na Covilhã foi a Câmara a encabeçar o movimento de contestação, substituindo-se às forças vivas da cidade. Porém, o que aparenta ser uma iniciativa louvável é, a meu ver, um erro crasso. Até podia ter sido a Câmara a iniciar o movimento, mas depois era necessário ter a humildade de passar a segundo plano, deixando a sociedade civil assumir a condução da luta. Infelizmente, há quem não consiga passar sem as luzes da ribalta, atitude que pode ter afastado algumas importantes personalidades da cidade, nomeadamente as que pertencem à área política do Governo. Só a força de um movimento cívico plural poderá contribuir para que manutenção das três maternidades seja uma realidade, por isso os excessos de protagonismo não ajudam em nada esta causa.

Por: João Canavilhas

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