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Em defesa da maternidade da Covilhã e de todas as outras

Segundo o Relatório Mundial de Saúde 2005 da OMS (Organização Mundial de Saúde), morrem todos os anos mais de 4 milhões de bebés nos primeiros 28 dias de vida, e outros 6,6 milhões de crianças morrem antes de completar o seu quinto ano de vida. Em todo o mundo, o número de mortes maternas também não tem diminuído, atingindo agora 529 mil mortes durante a gravidez, durante o parto ou depois do bebé ter nascido, (…), muitas vezes porque os cuidados de saúde foram demasiado tardios ou inexistentes.

Quando falamos (…) da nossa cidade, ficamos surpreendidos pela positiva. Estes números, ou taxas na maternidade da Covilhã, nos anos de 2002, 2004 e 2005 foram de ZERO, suplantando em toda a sua dimensão as 4,1 mortes por cada mil bebés nascidos vivos em Portugal e as 3,8 mortes/1000 na região Centro. (…) só aqui já tínhamos matéria suficiente para defendermos o direito à continuidade da maternidade.

O bloco de partos do Hospital Pêro da Covilhã, que serve os concelhos da Covilhã, Fundão, Belmonte e Penamacor, aberto em Dezembro de 1999, é uma estrutura moderna, tecnicamente bem equipada, dimensionada para 1.500 partos ano, com excelentes condições de apoio. (…). Assegura às mães e crianças assistência de pediatras, anestesistas (com administração de analgesia epidural) e permite a participação activa e o acompanhamento total do pai no momento do nascimento (…).

É um serviço altamente profissional, dotado de médicos obstetras, de enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica e de pessoal de apoio, motivado, dedicado, e que se tem posicionado ao nível dos melhores do país e da Europa ao longo deste anos (desde 1990 até hoje nasceram na maternidade da Covilhã 13.075 crianças).

Estas palavras ficam escritas (…) e surgem muito tempo depois de muitas outras terem vindo na imprensa regional, normalmente em defesa de uma posição, no meu entender, egoísta ou narcísica, defendendo outra maternidade e acusando a da Covilhã de ser um serviço com menos partos.

Ora, no meu entender, isto é uma falsa questão. A defesa da maternidade não se deve fazer pelo número de partos; deve sim efectuar-se pela qualidade dos mesmos, porque é isso que nos trará a qualidade de vida das gerações vindouras! Não o seu número. (…) As cerca de 800 crianças que nasceram em 2005 na maternidade do distrito da Guarda e as cerca de 1.200 que nasceram nas duas maternidades do distrito de Castelo Branco, merecem ser tratadas como cidadãos de pleno direito. É, sem dúvida, uma questão de saúde pública. Aquilo que, na minha opinião, o Governo deve fazer, e cito Lee Jong-wook, director-geral da OMS em 2005, é, «resolver a crise de recursos humanos da saúde, que por sua vez implica um grau mais elevado de financiamento e a sua melhor gestão no que respeita a estes aspectos de saúde».

Mais médicos e enfermeiros especialistas são a chave para a resolução deste problema, não o encerramento de maternidades, não a inacessibilidade das famílias portuguesas aos cuidados de saúde.

(…) Porque a OMS preconiza que todas as mulheres, sem excepção, devem recorrer aos cuidados profissionais de saúde quando dão à luz, que devem ser prestados num ambiente adequado, perto do local onde vivem e de acordo com a sua cultura de origem;

Porque não deve ser retirado às mães e às futuras crianças do concelho da Covilhã o direito de nascerem na sua terra (…);

Porque o desenvolvimento da Covilhã, da sua universidade e do seu concelho não pode ser anulado por uma decisão deste tipo;

Sou totalmente contra o eventual encerramento da maternidade do Hospital Pêro da Covilhã e entendo que a sua manutenção é fundamental para o bem-estar das populações (…).

Paulo Tourais, licenciado em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica, Covilhã

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