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Meia Praia

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Os índios moram por lá ainda, não muitos, já só alguns, as casas não se movem, a pesca não se faz como antigamente, mas a meia-lua que é o areal da “meia praia”, em Lagos, a 16 kms de Portimão, continua lindíssima. As casas criaram-nas as pessoas, com as mãos e suas poupanças em 1975, se calha ao som do Zeca. Era a Revolução e nessa altura, sobre a areia da praia, ao fundo da “meia praia”, o mais longe que a areia permite de Lagos, construíram os índios as suas casas. Eram escuros de pele porque o mar, o iodo e a praia queimam e curtem o tegumento. Tinham mal os dentes porque por mais que pescassem não dava para dentista, tinham pouca gordura porque a pesca no inverno era menos, o mar entrava pela vida e matava nas distrações, e poupavam na roupa e no alimento. Os índios eram pobres, mas em 1975 fixaram os pés das casas no areal das praias. Foi um momento sedentário para quem levava as casas às costas. Agora vem uma gente amarga com leis na mão que quer acabar com a “meia praia”, com casas na areia. Querem dar aos turistas um areal que é dos índios e os índios que são em menor número terão de sair da praia que já era deles há muito, quando o Zeca os cantava e não havia turistas nem prédios em Lagos. Os índios da “meia praia” sabem das promessas de novas casas e sabem que os querem tirar dali. Eu fui lá e vi os índios no café da aldeia, construída em 1975 e pareciam felizes.

Por: Diogo Cabrita

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