Um exercício que gostaria de ver muitos praticarem era o de raciocinar sobre tudo o que têm e não carecem. Perder algum tempo a imaginar quantas vezes usaram a piscina, quantas vezes jogaram bilhar, quantas funções mais que o necessário tem a televisão, ou quantas calças não usam e estão nos armários. Imaginem por instantes tudo o que compraram e não precisaram. Realizemos quantas coisas substituímos sem inutilizar ou dar o que deixámos de usar. As pessoas que me rodeiam genericamente gastam o que têm em aforros, vaidades, desejos materiais e, por vezes, culturais. Enterram o dinheiro em tudo o que ficará para lá das suas vidas num estranho exercício de imortalidade. Compram um palácio ou um terreno enorme para quê? Criar empregos, criar negócios é vida, é modo de sustento e é ambicioso. Converter os lucros da ambição em inúmeras vaidades é o que discuto aqui. Quase todos são cristãos e a maior parte não pratica. Gastam tudo consigo. Gastam e guardam cada tostão num exercício egocentrado. Têm roupa a mais, têm objetos de mais. Compram casa e apartamentos e distraem-se com matérias de que com frequência pouco usufruem. Têm. São gulosos no querer. E se todos contabilizassem os seus ganhos poupassem, tivessem seu lugar, algumas vaidades, sobrava sempre algum dinheiro. Se ajudassem alguém? Se fizessem o exercício supremo da dádiva? Essa ideia, quando quase nada se tem e se partilha, é missionária. Outra coisa é dar o que é excedentário, o que manifestamente se produz muito para lá do que se precisa.
O mistério é desejar até sofrer? Porque se deseja sempre mais, sempre de modo insaciável? Temos um lugar e compramos outro. Temos uma casa e avançamos sobre mais uma. Pagamos IMI sobre o que não usamos, mas ainda assim preferimos estes pagamentos que a dádiva. O mecenas oferece dinheiro em favor de uma aposta nas pessoas. Alguém que cruza connosco na vida e decidimos empurrar. Levar ao colo os sonhos de outro, ajudar alguém aflito. No mecenato e na dádiva não pode haver cobrança ou arrependimento. Dei por fé e por essa razão tiro do que sobra e deixo que alguém usufrua. Há pessoas que se fossem ricas, o mundo era melhor para muitos mais. São poucas, mas já conheci algumas.
Por: Diogo Cabrita