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Mais queijo, mas menos produtores

O queijo Serra da Estrela está ameaçado pela falta de leite, pela diminuição de certificações e pela crise

As suas características inconfundíveis de aroma e paladar, juntamente com a sua cor amarelada, pasta semi-mole, amanteigada, mais macio ou duro, não enganam ninguém. O queijo Serra da Estrela delicia, à colher ou não, os mais gulosos. Não se sabe é por quanto tempo. Já que há cada vez menos produtores, e apesar do aumento da produção, a crise agudiza a comercialização deste produto tradicional.

O saldo da produção de queijo deste ano «não é muito positivo», lamenta Célia Henriques, técnica agro-alimentar da Estrelacoop – Cooperativa dos Produtores de Queijo da Serra da Estrela. Por causa das condições meteorológicas e pela falta de pastagens, «os produtores aguardam que ainda venha mais chuva, só assim se poderá agoirar melhores resultados», confessa a técnica. Caso contrário, esta campanha «poderá ser pior do que a do ano passado» que foi ameaçada pelo tempo seco e frio, adianta Célia Henriques. Este ano salva-se a qualidade do queijo, que «é muito boa», destaca a responsável, sublinhando a qualidade do leite que «é muito gordo e forte, apesar de escasso», queixa-se. O queijo da Serra da Estrela é fabricado com leite cru de ovelha, da raça Bordaleira Serra da Estrela e/ou Churra Mondegueira, produzido numa área geográfica delimitada. As ovelhas são criadas nas serranias com alimentação de plantas espontâneas. Com uma ordenha manual ou mecânica. No entanto, o uso da Denominação de Origem “Queijo Serra da Estrela” obriga a que o queijo seja produzido, obedecendo às características definidas no Caderno de Especificações, o qual inclui, designadamente, as condições de produção de leite, higiene e fabrico do produto, podendo ser utilizada apenas por produtores expressamente autorizados pela Estrelacoop, que se comprometam a respeitar todas as disposições constantes no Caderno de Especificações e se submetam ao controlo a realizar pelo Organismo Privado de Controlo e Certificação. Para se fazer um bom queijo, basta ter «boas condições de higiene e alguns cuidados na lavagem do queijo, que deve ser feita de três em três dias», alerta a técnica.

Nos últimos anos, o número de certificações do queijo «tem vindo a diminuir», constata Célia Henriques. Sendo que nesta campanha só tiveram 23 produtores. Em contrapartida, a produção de queijos está a aumentar, porque os produtores mais novos investem na produção, «apesar da escassez de leite», verifica. O segredo passa «por comprar leite aos vizinhos», já que seria mais dispendioso aumentar os rebanhos, explica a técnica da Estrelacoop. Para esta campanha, estão previstos «80 mil queijos», à semelhança do ano passado. Antigamente, esta tradição passava de geração para geração, mas hoje os filhos não seguem este ofício ancestral «na maioria dos casos, os filhos acabam por emigrar», conta a responsável. Por isso, o número de produtores tem vindo a decrescer drasticamente. Sendo que Seia e Oliveira de Hospital são os concelhos que têm os produtores mais novos, a partir de trinta anos. Enquanto que Fornos de Algodres e Celorico da Beira são os concelhos com a faixa etária mais envelhecida, «o mais novo, em Celorico, deverá ter cerca de 43 anos», faz contas de cabeça Célia Henriques. Mas a tendência é para diminuir a produção do queijo da Serra da Estrela que está sujeita à crise da comercialização que tem vindo a acentuar-se nos últimos anos. O preço da revenda também tem sentido a crise e tem vindo a decrescer, neste momento «vende-se a 14 euros o quilo», assegura a técnica.

Rota das Feiras do Queijo

As tradicionais feiras do Queijo Serra da Estrela continuam. Em Celorico da Beira, começa amanhã a “Feira do Queijo”, seguindo-se Seia (no sábado), Manteigas (de sábado a terça-feira, no âmbito da 9ª mostra das actividades económicas) e Gouveia (no domingo).

Patrícia Correia

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