É cada vez mais penoso ouvir os debates na Assembleia da República. Não há um deputado que não procure o sound bite, o efeito fácil. A qualidade mais apreciada da linguagem é a contundência, bem acima da clareza e da qualidade da argumentação. Mais do que convencer os ouvintes, os deputados pretendem causar neles uma impressão. O pugilato verbal e a troca de efeitos fáceis predominam por isso sobre o confronto das ideias. Infelizmente, estes defeitos percorrem todo o espectro político, da esquerda à direita. Se é verdade que alguns deputados do Partido Comunista parecem ter mais cuidado com aquilo que dizem, é verdade também que estragam muitas vezes a pintura com o seu sectarismo e uma linguagem velha de décadas. Particularmente irritantes são os discursos da direita e da esquerda sobre a crise das dívidas soberanas.
Diz a direita que a austeridade é uma inevitabilidade e que só empobrecendo podemos sair da crise. Está aqui implícito um juízo de que chegámos a esta camisa de onze varas por termos vivido acima das nossas possibilidades, mas também a ideia de que devemos ser castigados por isso. Também irritantes são os argumentos que defendem que essa estratégia está a funcionar, baseados em estatísticas como as do desemprego. Este tem baixado, é verdade, mas não em consequência das políticas do governo, antes porque muitos desempregados emigraram e porque muitos dos que o não fizeram desistiram de encontrar emprego. Não explica também a direita como iremos conseguir pagar a dívida, agora que fomos condenados a ser pobres, perpetuamente, e por isso impossibilitados de reunir meios suficientes para amortizar o muito que devemos.
A esquerda aprecia também, à sua maneira, os prestígios do pensamento mágico. Este gira agora em volta de sonhos acordados de não pagar a dívida ou sair do Euro, mas calando ao mesmo tempo as soluções para os problemas que estas receitas trariam: como obter financiamento depois de recusar pagar o que agora devemos, ou como assegurar os necessários fornecimentos de bens e serviços para quando, saindo do euro com um saldo comercial negativo, tivéssemos de começar a pagar importações em escudos.
É triste ver os nossos políticos argumentar fantasias e não ouvir de nenhum deles um discurso coerente e credível. Acreditaria num político que, sem promessas ou ilusões, fosse capaz de nos fazer acreditar numa mensagem tão simples como esta: sairemos da crise trabalhando mais e melhor, desperdiçando menos, sendo mais honestos e solidários. É esperar demais.
Por: António Ferreira