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Madeira Grilo em causa

Bombeiros de Famalicão e Gonçalo querem explicações sobre a divulgação de um documento «supostamente inacabado e destinado à discussão interna»

Os bombeiros de Famalicão e Gonçalo exigem a Madeira Grilo, presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito da Guarda, uma explicação pública sobre o facto de um documento «supostamente inacabado e destinado à discussão interna» ter sido revelado pela comunicação social antes da Associação Humanitária gonçalense e da Junta de Freguesia de Famalicão terem tido conhecimento prévio do seu teor. Este pedido de esclarecimento é a reacção oficial à divulgação, na semana passada, pela mesma Federação do relatório elaborado pelos técnicos do Gabinete de Apoio Social enviados à secção de Famalicão para prestar apoio psicológico aos colegas de Sérgio Rocha, falecido no incêndio de 9 de Julho.

Numa nota a que “O Interior” teve acesso, Joaquim Marujo, presidente dos voluntários de Gonçalo, a que pertence a secção de Famalicão, e António Fontes, autarca famalicense, criticam o «modo leviano, irresponsável e pouco ético» como foi conduzido o processo. E classificam o sucedido de «lamentável e deselegante», considerando mesmo que se «promoveu o “show-off” e alimentou toda a espécie de especulações, em vez de se procurarem soluções para os problemas» que enfrentam populações e bombeiros. «O que não nos parece correcto é que estes factos tenham vindo a tornar-se o ponto central de um relatório cujo teor deveria, a nosso ver, incidir sobre o acompanhamento efectivo e continuado (!) aos bombeiros desta secção, entre os quais se incluem familiares da vítima mortal», acusam. O referido documento incide sobre uma visita da equipa de psicólogos à 1ª secção destacada dos voluntários de Gonçalo na sequência dos acontecimentos que rodearam o incêndio ocorrido no início de Julho na serra de Famalicão. Nele são igualmente focadas as deficiências das instalações, o funcionamento da secção e o trabalho dos seus “soldados da paz”, mas transcritos de forma «pouco rigorosa e inexacta», o que resultou numa «visão distorcida» dos aspectos tratados, «prestando-se por isso às mais disparatadas e descabidas interpretações», argumentam, apontando o dedo a «alguma comunicação social».

Lamentando os comentários pessoais constantes do relatório – “isto é de bradar aos céus” ou “condições de terceiro mundo” –, os dois presidentes recordam que as carências apontadas são reais, mas não têm impedido o funcionamento da secção de Famalicão desde a sua criação, em 2001. Por isso, esclarecem que as viaturas de que dispõem estão operacionais e que a camarata é exclusivamente masculina por força das limitações físicas da secção. Já a conciliação entre o descanso e o convívio tem sido gerida pelos próprios bombeiros «com civismo e camaradagem». Quanto ao resto, alegam, entre outros pontos, que também «não pode ser negativo o facto de haver no quartel capacetes de combate a fogos urbanos, julgamos, isso sim, desejável que os haja igualmente para os incêndios florestais». Mas a ironia logo dá lugar a um anseio: «Admitimos que os reparos feitos terão sido motivados pelo desejo de que os bombeiros venham a beneficiar de mais equipamento e melhores condições de trabalho, nem nos parece negativo que esses aspectos tenham merecido a atenção dos técnicos, para posterior reflexão», acrescentam.

Polémica à parte, a Junta de Freguesia e os bombeiros locais vão homenagear, no sábado, os seis falecidos a 9 de Julho. A cerimónia «simples» consiste em assinalar o local da morte do voluntário de Famalicão e dos cinco sapadores chilenos com uma cruz e uma lápide onde constarão os seus nomes. «É um gesto de despedida e também a forma encontrada para que ninguém se esqueça do que ali se passou nesse dia», refere António Fontes. Foram convidados a participar representantes da embaixada do Chile em Portugal, responsáveis da Afocelca e dos bombeiros portugueses, estando já confirmada a presença de uma das equipas de sapadores chilenos que trabalham em Portugal.

Luis Martins

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