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Dar ao povo o que o povo quer*

Numa época em que continua a ser de pão e circo é evidente que os anteriores presidentes da Câmara – Maria do Carmo Borges e Álvaro Guerreiro – cometeram um erro político grave ao não quererem fazer as festas da cidade nos últimos anos. Argumentarem com a falta de dinheiro foi outro erro, pois o actual presidente conseguiu fazê-las ao mesmo tempo que afirmava ter herdado uma situação económica difícil. Porque razão é que os primeiros citados não quiseram ouvir o povo? Porque razão é que o segundo decidiu gastar tanto dinheiro numa manta de retalhos medíocre, ao nível de uma vilória? Uma das primeiras conclusões pode ser a de que o actual presidente é um populista que oferece ao povo o que o povo quer, porque sabe que nos momentos eleitorais o povo não se há-de esquecer deste gesto, mesmo que sacrifique o património municipal; e que os antigos presidentes, apesar de saberem que não fazer as festas significava ter o povo contra eles, não as fizeram para não depauperarem mais os cofres do município. Um “populista demagogo” versus dois presidentes conscientes e responsáveis? É sabido que os anteriores presidentes não deram ao povo o que o povo queria (festas popularuchas, o Luís Filipe Reis e outros pimbas, tasquinhas e carrosséis) e Valente deu tudo o que povo, por agora, queria. (…) Começa agora a perceber-se a ausência de pensamento político do actual presidente? É a isto que ele chama desenvolvimento? Elegemos um presidente que parece deslumbrar-se com cosmética a que chama modernização da Câmara, com o futebol na relva sintética, com as festas pimba, com os centros comerciais. O investimento feito noutras áreas pode ser deixado para trás, como coisa dos que não gostam do povo nem o povo deles. O populismo é uma doença da democracia.

(…) Sou de opinião que quem devia fazer festas com artistas comerciais (que é o caso) deviam ser empresas desse ramo que arriscassem ou, então, associações de comerciantes ou de outros empresários. As Câmaras deviam era apoiar as manifestações artísticas e culturais que, de outra forma, não conseguiriam viabilizar-se.

Relembremos que, afinal, o presidente Valente depois de dizer que as festas seriam como “antigamente” no parque, voltou com a ideia atrás e elas passam-se também na cidade. Era difícil perceber como é que elas voltariam ao parque se a mudança para o centro da cidade foi uma opção do seu agora nº dois, Dr. Virgílio Bento! Claro que a cidade (o povo não é burro) percebeu que esse vereador foi afastado do processo destas festas, mas colocá-lo tanto em causa seria demais.

(…) A comissão de festas queria um programa pimba (pelo menos seria coerente), mas à última hora incluíram os GNR e o Luís Represas para dar uma no cravo e outra na ferradura, pois estes, apesar da velhice, compunham o ramalhete. Mas foi logo o cantor dos GNR que colocou em questão o absurdo de voltar ao parque, questionando aquela plateia sobre o lago.

Mas apesar da péssima imagem e divulgação (cartaz feio e mal feito) o povo encheu as ruas. Tinha fome de festas, como ouvi neste dias. Mas alguém tem dúvidas que as encheria a propósito de outro evento? Se houvesse um show de strip na Praça Velha, o povo ocorreria pois o povo gosta de strip. (…)

Uma questão ficará sempre a pairar. Porque razão não terá o Eng. Valente encarregado a empresa municipal de cultura de produzir as festas, aproveitando os meios e dando a ganhar alguns euros a quem tem um saldo negativo? Ele é também o presidente da empresa mas preferiu contratar uma empresa comercial para produzir as festas. Uma empresa que não é da Guarda e que trata de tudo o que tem a ver com espectáculos. Ou estavam convencidos que era a comissão amadora a tratar destes assuntos? Contrataram outra empresa a quem vão pagar. Quanto? Porquê, se tinham uma na Guarda e da Câmara? Acho este assunto muito difícil de explicar pois não será isto má gestão? Se não, alguém que explique. Dispensar a empresa municipal de cultura e contratar outra para fazer os mesmos serviços é quase inexplicável. Dispensaram também o resto do pelouro da cultura, senão não se entendia que se esquecessem da animação da cidade aquando dos espectáculos no parque. O que valeu foi a Beirartesanato mas aí também há mistério. Porque razão só este ano se realiza no centro da cidade se houve tantos convites anteriores e públicos, nomeadamente feitos pela anterior presidente? E não estava ligado ao Nerga nessa altura o actual vereador Vítor Santos?

Estamos a perceber que há muitas questões por esclarecer, a começar pelo silêncio de alguns responsáveis. Talvez o putativo sucesso das festas não seja motivo para foguetório, mas sim para apagar alguns incêndios.

Ana Sílvia, carta recebida por E.mail

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