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Luta contra portagens não pára

Cerca de 50 viaturas participaram no buzinão da semana passada na Guarda

«Creio que vamos conseguir forçar o Governo a mudar de atitude». A Comissão de Utentes contra as Portagens no IP5/A25 não desarma e promete continuar a lutar. O buzinão contra a introdução de portagens na futura A25, levado a cabo na Guarda na última sexta-feira e que reuniu cerca de 50 viaturas, foi apenas mais uma manifestação a dar conta do descontentamento da população. Entretanto, a adesão ao movimento é cada vez maior e já foram recolhidas mais de 18 mil assinaturas para o abaixo-assinado a entregar brevemente ao Governo e na Assembleia da República.

Este foi o segundo buzinão promovido pela Comissão de Utentes e embora a adesão tenha sido menor que a verificada em Viseu, foram muitos os condutores que demonstraram a sua posição pelas principais ruas da Guarda. Entre os manifestantes, encontravam-se alguns empresários, comerciantes, cidadãos anónimos e muitos sindicalistas. Francisco Almeida, porta-voz da comissão, garante que «todas as pessoas dos distritos da Guarda, Viseu e Aveiro estão conscientes deste problema», tendo sido já recolhidas mais de 18 mil assinaturas. Com várias acções programadas para as próximas semanas, não deve ser muito difícil chegar às 20 mil assinaturas até o abaixo-assinado ser entregue em Novembro. Já amanhã vai ter lugar uma marcha lenta no IP5, com partida marcada para as 10 horas na área de serviço de Mangualde e ida até Viseu. Dia 29, é a vez de Aveiro receber mais um buzinão, enquanto em Novembro vai decorrer uma iniciativa conjunta com a Comissão de Utentes da A23. Assegurada foi também a adesão de 99 Juntas de Freguesia, 19 Câmaras Municipais e 297 organizações de diverso tipo.

Apesar de todos os protestos, o Governo não tem mostrado intenção de alterar a sua posição, mas Francisco Almeida continua optimista: «Há que continuar a pressionar. Estas coisas não caem do céu aos trambolhões. O facto do Governo ter dito um conjunto de coisas, não quer dizer que não seja obrigado a recuar e vai ser», considera. José Fraga, residente na Guarda, foi um dos participantes no manifestação de sexta-feira, mostrando-se descontente com a intenção do Governo em querer introduzir portagens tanto na A25, como na A23. «Acho que está mal porque não temos estradas secundárias em condições para podermos circular», critica quem costuma, por vezes, fazer algumas viagens até à capital. Idas que vão ser «muito mais» complicadas com as portagens, porque «não deve ser tão barato como isso», frisa. Também António Carvalhinha está contra, ainda para mais quando a EN16, a via pretensamente alternativa à A25, «não tem pés nem cabeça, está muito degradada e é impossível circular por lá todos os dias», garante. «Para fazerem a A25 tinham que deixar o IP5 como alternativa. Isso é que tinha lógica», sustenta.

Jacinto Manuel, outro participante no buzinão, considera o caso «uma vergonha». Para além das estradas alternativas à A25 e A23 não serem as mais indicadas, levanta-se ainda outra questão. Saber se as duas vias possuem as condições de segurança que uma auto-estrada exige, tendo em conta que é uma via onde se pode circular a uma maior velocidade. É que tanto na A23, como na A25, existem algumas placas a indicar que a velocidade permitida é de 100 quilómetros por hora, o que pode levar alguns condutores mais “distraídos” a serem autuados quando pensam circular dentro dos 120 permitidos. Contactado por “O Interior”, Luís Celínio, representante da Prevenção Rodoviária Portuguesa na Guarda, realçou que ainda é «muito prematuro» estar a falar se a A25 e A23 têm ou não as condições de segurança exigidas». Contudo, sempre adianta que «há várias situações que têm que ser corrigidas» caso as portagens venham mesmo a ser realidade, como os nós de acesso e as áreas de repouso que existem, nomeadamente na A23.

Lacerda realça falta de alternativas

Instado a pronunciar-se sobre a intenção do Governo em aplicar portagens na A25 e A23, à margem do encontro transfonteiriço realizado na Guarda na última terça-feira, Joaquim Lacerda, Governador Civil da Guarda, optou por não falar em virtude de «já ter exposto» a sua ideia a um órgão de comunicação social nacional. E fez distribuir pelos jornalistas fotocópias de uma edição recente do “Jornal de Notícias” onde se pode ler que é «a favor do princípio do utilizador-pagador, mas desde que existam condições para a sua aplicação. O que não é o caso», admite o Governador Civil. Por isso, Joaquim Lacerda receia que a instalação de portagens na A25 será «bastante penalizante para o distrito da Guarda, sobretudo porque não existem alternativas», insiste. Tanto mais que a EN 16 «não tem condições para substituir a futura A25», que, no caso da Guarda, «é a única forma de nos por rapidamente em contacto com Aveiro e o Norte do país», sublinhou.

Ricardo Cordeiro

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