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Laura, o patinho feio que virou cisne

Opinião – Ovo de Colombo

Depois de vos trazer, em abril, “The Philadelphia Story” (1940), regresso à década de 40 do século passado para falar de “Laura” (1944), um filme realizado por Otto Preminger. Este mistério de “outros tempos” é pautado pelo ritmo calmo e metódico de um suspense que, atualmente, não vemos tanto na sétima arte.

Longe da complexidade de obras mais recentes como “The Prestige” (2006) ou “Gone Girl” (2014), “Laura” é uma obra de argumento aparentemente simples, mas que se torna cada vez mais confuso para o espetador, que é movido – e, arrisco dizer, enganado – pelos constantes “twists” da narrativa. O enigma é despoletado e alimentado pela morte misteriosa de Laura Hunt (Gene Tierney), uma jovem bem sucedida e de casamento marcado, sendo a investigação levada a cabo por Mark McPherson (Dana Andrews).

O polícia desconfia das pessoas mais próximas de Laura que, à primeira vista, poderiam facilmente ter assassinado a publicitária por motivos passionais. Esta visão quase “macabra” da vida romântica, e da forma como cada personagem é capaz de lidar com o que sente e o que ambiciona, alastra-se ainda a Mark, que se apaixona pela falecida. Desta forma, o amor e o crime quase que se confundem, uma vez que é pouco claro onde acaba um e começa o outro: onde a vida dá lugar à morte e, também, se pode existir vida no meio de tanta “escuridão”.

Em 2008, “Laura” (1944) aparecia em quarto lugar na lista dos dez melhores filmes de “Mistério” para o American Film Institute. Não obstante, o sucesso com a crítica foi quase imediato: cinco nomeações para os Óscares, três das quais nas categorias principais (realização, ator secundário e argumento). Algo que poucos imaginariam, à partida, depois de recusas de papéis, intrigas e atritos, ao jeito de um bom drama de Hollywood. Curiosidade para a nomeação de Clifton Webb, que deu vida ao peculiar Waldo Lydecker, que não surgia numa longa-metragem desde 1925 (a última curta tinha sido em 1930). Isto porque a sua seleção não foi pacífica, o produtor Darry F. Zanuck era contra a participação do ator por este ser homossexual. Depois disso participou em mais 19 filmes e foi nomeado para os Óscares por duas vezes.

Sara Quelhas*

*Mestre em Estudos Fílmicos e da Imagem pela Universidade de Coimbra

**Criadora de conteúdos na Última Sessão (fb.com/ultimasessao.cinema)

Sobre o autor

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