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Irrevogável disse ele

Theatrum Mundi

Os mercados sabem quem manda. Os mercados não querem saber de palavras como irrevogável ou atempadamente ou Constituição na boca de quem não manda. Os mercados são muito sensíveis a tudo o que cheire a clarificação eleitoral em tempos de crise e de volatilidade financeira que eles próprios criaram. Os mercados estão sempre muito atentos e não têm contemplações para com quem não manda ou para com quem faz que manda e não manda.

Os mercados sabem que quem realmente manda em Portugal é o Ministro Schäuble. E às vezes o Banqueiro Draghi. Os mercados não se esquecem da conversa em “off”, que afinal era em “on”, do Comissário Gaspar com o Ministro Schäuble, em Bruxelas, e da promessa de um segundo resgate. Os mercados assustaram-se na semana passada mas os mercados sabem quem manda. Os mercados sabem que irrevogável é um luxo para quem não manda e que Paulo Portas se enganou no destinatário da sua carta de demissão.

Os mercados desdobraram-se em telefonemas na semana passada mas acalmaram com as declarações do Banqueiro Draghi, do Ministro Schäuble e da Chanceler Merkel. Os mercados ouviram quem manda em Berlim e Frankfurt e ficaram a saber que temos governo e que afinal não vai haver eleições antecipadas em Portugal. E que a Comissária Albuquerque é para ficar e que a política de austeridade máxima é irrevogável. Para os mercados, eleições e democracia são luxos para quem não manda e não consegue pagar o que deve.

Os mercados ignoram os meandros da democracia a que chamam politiquice e não querem saber que um senhor chamado Silva ande a ouvir opiniões sobre a fórmula de um governo decidido há dias entre Berlim e Frankfurt. Os mercados não querem saber se vai haver comissários da cultura ou do ambiente, comissários de estado, vice-mandatários com poderes especiais ou outras figuras encantatórias como o senhor Jorge Moreira da Silva. Os mercados ouviram o Ministro Schäuble dizer que não vai haver mudanças e isso basta-lhes.

Hoje, terça-feira 9 de julho, Cavaco Silva recebe em Belém os séquitos do PS, do PSD e do CDS, da CIP, da CAP, da CCP e da CTP.

Por: Marcos Farias Ferreira

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