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«Investir na Feira de São Bartolomeu é uma obrigação porque é o maior certame da região»

Amílcar Salvador, presidente da Câmara Municipal de Trancoso

P – Quais são as novidades da edição deste ano da Feira de São Bartolomeu?

R – Esta edição, que começa amanhã e termina dia 21, vai ser superior e vai atrair mais gente que as anteriores, é essa a nossa expetativa. Vivemos tempos difíceis mas faço esta leitura porque nestes primeiros seis meses do ano o número de visitantes tem tido um acréscimo muito significativo. E naturalmente que a Feira de São Bartolomeu, pelas suas condições, pelo evento que é, pelo aumento da procura por parte dos expositores e também por algumas novidades, terá igualmente mais gente. É a primeira vez que o município vai apostar numa tenda gigante para maior comodidade do público nos espetáculos da noite porque em anos anteriores notámos uma quebra significativa de espetadores nos concertos sempre que a noite estava menos quente. A tenda tem 1.500 metros quadrados e vai albergar muita gente. Após os espetáculos esse será também o local de atuação de DJ’s até às 3h30 da manhã e haverá quatro bares concessionados a estabelecimentos da cidade. É uma programação que vai atrair muita juventude, para além da animação, tasquinhas, diversões e expositores que já temos. No Pavilhão Multiusos registou-se uma procura maior para a mostra de atividades económicas e teremos, pela primeira vez, os stands institucionais da Câmara, da Comunidade Intermunicipal e do Turismo do Centro.

P – A instalação da tenda é, portanto, uma aposta estratégica?

R – Sim, além disso também permite gerar receitas pois haverá espaço para os nossos principais patrocinadores e um “videohall” ao lado do palco vai passar spots publicitários de várias empresas. A feira é organizada pelo município de Trancoso, em colaboração com a AENEBEIRA – Associação Empresarial do Nordeste da Beira, e tem havido bastantes patrocinadores a aderir a este tipo de publicidade, em que cada spot e a promoção sonora no recinto custam 120 euros.

P – Vai-se manter a área reservada à agropecuária e aos produtos agrícolas estreada no ano passado?

R – Sim, a 21 de agosto no mercado do gado. O último dia do certame será dedicado à agropecuária do concelho com uma grande mostra e exposição de gado e, pela primeira vez, um concurso de raças de ovelhas churra mondegueiras, de cabras serranas e de vacas jarmelistas. Vão estar 60 a 70 parques para ovinos e alguns bovinos no pavilhão, a par da realização de jornadas técnicas. Haverá outro concurso para os nossos criadores locais. O objetivo é valorizar este setor que é muito importante para a economia local e acreditamos que nesse dia teremos milhares de visitantes.

P – Foi difícil organizar esta edição?

R – Nunca é fácil, mas há uma grande experiência do executivo, que a realiza pelo terceiro ano consecutivo, e da AENEBEIRA. No entanto, Trancoso tem eventos deste género quase mensais. Recordo que em maio, no feriado municipal, a recriação da Batalha de São Marcos foi um evento extraordinário com milhares de pessoas. Em junho tivemos as bodas reais, outra iniciativa de dois dias extremamente importante, e no mês passado um festival de música no castelo. Temos agora este certame, que continua a ser a maior feira do género na região e traz muita gente à cidade. Pela sua localização geográfica, pelas excelentes acessibilidades e pelo seu património, Trancoso é visitado por cada vez mais gente.

P – Quantos expositores vão estar na Feira? A que se deve este aumento?

R – Temos 95 stands no campo da feira, onde ficam o artesanato, os automóveis, a maquinaria agrícola, um bazar, as tasquinhas e as diversões. E 72 expositores no Pavilhão Multiusos. São números que nos deixam muito satisfeitos e devem-se sobretudo a uma autoestima maior dos trancosenses, acho que conseguimos potenciar mais Trancoso nos últimos anos e as pessoas acreditam mais na sua terra. A nível do comércio e do turismo, há de facto indicadores positivos e que incutem confiança nos munícipes e nos nossos empresários. A mensagem que temos tentado transmitir é que vale a pena apostar em Trancoso, que tem muitas potencialidades, e as pessoas, a pouco e pouco, vão acreditando.

P – Este ano, a Câmara volta assumir a responsabilidade da organização do certame. Qual é o custo?

R – A responsabilidade é praticamente toda da autarquia a nível do cartaz de espetáculos, da animação, da vigilância e das infraestruturas. O orçamento para a contratação dos artistas ronda os 74 mil euros, mais IVA. Temos um excelente cartaz com concertos todas as noites e várias atividades de animação durante os dez dias da feira. Ao final da tarde, por volta das 18 horas, estão previstos espetáculos à entrada do Pavilhão Multiusos com os ranchos folclóricos do concelho, grupos de concertinas locais e a Banda de Freches. O custo da feira perfaz um total da ordem dos 115 mil euros. É um investimento que faz sentido porque é a maior feira da região e não podemos descurar o mínimo pormenor para que assim continue. Diria mesmo que é uma obrigação.

P – A feira vai prolongar-se durante dez dias. É a duração ideal?

R – Há muitos anos que este figurino se mantém e é extremamente importante. A feira não poderia começar mais cedo porque o concelho já tem muita gente nesta altura, nomeadamente emigrantes, e nesta altura há muita animação com festas populares nas várias freguesias. Por isso, creio que é o calendário ideal porque são dez dias que geram grande animação, movimento, e são muito importantes para o comércio e serviços locais.

P – A Feira de São Bartolomeu continua a ser a grande montra de Trancoso. Com que resultados?

R – Pelos dados registados no posto de turismo estamos a crescer mais de 5.000 visitantes por ano desde 2014. Estamos confiantes que em 2016 vamos ultrapassar esse número e entendo esta situação como sendo fruto da imagem que todos os trancosenses e o município têm apostado em divulgar do concelho através do seu património e dos factos históricos que aqui aconteceram, caso das bodas reais entre D. Dinis e a futura Rainha Santa Isabel, em 1282, ou da Batalha de São Marcos. São dois acontecimentos que pretendemos valorizar com a recriação da célebre batalha que deixou os castelhanos “a pão e laranjas” a 28 e 29 de maio por forma a que mais pessoas possam conhecer o local, que é Monumento Nacional, ao longo do ano. Apostamos também na divulgação do castelo, como aconteceu com o festival de música no final de julho, e das bodas reais, que são tema de uma das feiras medievais mais antigas da região. Há depois este centro histórico, as muralhas medievais, a judiaria, as igrejas, os pelourinhos, o parque municipal, ou o Centro Isaac Cardoso… Ou seja, Trancoso é um centro de descoberta da História do nosso país e está a cativar cada vez mais visitantes.

P – O que revelou para o Palácio Ducal é o contrário do que tinha anunciado no ano passado. A que se deve essa alteração?

R – Deve-se ao facto do edifício dos atuais Paços do Concelho ser demasiado pequeno para albergar todos os serviços da Câmara. Aqui não há capacidade para mais de 35/40 pessoas no máximo, ora atualmente a autarquia emprega cerca de 70 pessoas nas diferentes áreas. Chegámos à conclusão que não era a melhor opção pois teríamos que sair temporariamente daqui durante as obras para depois voltar sem nunca ter uma solução ideal para os Paços do Concelho, que estão muito degradados. O Palácio Ducal tem o dobro da área, permite concentrar todos os serviços autárquicos num único imóvel e será depois intervencionado numa segunda fase para criar um auditório municipal maior. Aqui passará a chamar-se os Paços da Cultura e permitirá trazer mais gente ao centro histórico juntando vários serviços que estão dispersos pela cidade, como o arquivo e a biblioteca municipal. Creio que é a estratégia correta para a cidade e não tenho dúvida que, num curto espaço de tempo, vamos concretizar estes projetos. A nossa estimativa de custos no Palácio Ducal rondará os 800/900 mil euros, enquanto a intervenção prevista para os atuais Paços do Concelho custará menos porque será menor.

P – Já conseguiu equilibrar as contas do município ou, pelo menos, resolver parte desse problema?

R – É público que estamos a conseguir abater cerca de 2,5 milhões de euros na dívida em cada ano. Portanto, ao fim de quatro anos estamos a falar em quase dez milhões de euros. Se a nossa dívida rondava os 23 milhões de euros quando chegámos à Câmara, em 2013, e reduzirmos dez milhões até ao final do mandato isso é muito significativo. Queremos recuperar o município em termos financeiros, mas continuar com este dinamismo. Temos mais gente que nos visita do que em 2013, a Escola Profissional tem hoje outra visibilidade e com mais alunos, as coletividades e associações do concelho têm mais dinamismo graças ao nosso apoio. O município não pode querer ser dono da atividade do concelho, tem que ser agente facilitador das atividades.

«Vamos mudar a Câmara para o Palácio Ducal e transformar os atuais Paços do Concelho em Paços da Cultura»

P – Estamos a caminhar para o final do mandato, o que pretende concretizar até 2017?

R – Vamos requalificar o mercado municipal, uma obra prioritária que já foi adjudicada. Conseguimos fundos próprios para fazer esta empreitada, que vai arrancar após a Feira de São Bartolomeu e deverá estar concluída no final deste ano. É uma intervenção que, em números redondos, fica nos 450 mil euros, o que para um município com as dificuldades financeiras que tínhamos é muito dinheiro. Mesmo assim, vamos iniciar os trabalhos exclusivamente com recursos próprios, independentemente do projeto vir a ser, ou não, comparticipado por fundos comunitários. Vamos mudar os serviços da Câmara para o Palácio Ducal e transformar os atuais Paços do Concelho em Paços da Cultura. O Palácio Ducal já foi minimamente intervencionado no interior e paredes, o que permitiu a reabertura de duas ruas no centro da cidade. Estamos na fase final do projeto dos novos Paços do Concelho e logo que o tenhamos, sensivelmente daqui a um mês, iremos procurar arrancar com essa obra quer no âmbito da regeneração urbana, quer na contratualização. É uma mais-valia enorme para a Câmara. Depois pensaremos no edifício onde funciona a autarquia para acolher uma mini biblioteca, espaços interpretativos das bodas reais e da Batalha de São Marcos, mas também uma área expositiva para o espólio da pintora Eduarda Lapa.

No início do próximo ano queremos também avançar com a requalificação da estrada entre o nó do IP2 e a cidade. São cerca de quatro quilómetros que é preciso melhorar, até porque o novo quartel dos bombeiros – que o município também apoiou – está concluído e bem localizado junto daquela via. O nosso azar é que é uma estrada nacional, mas o troço entre a zona da Lactovil e o Chafariz do Vento é do município desde a requalificação da estrada nacional 226 até Vila Franca das Naves. É uma obra extremamente necessária para Trancoso. Já temos uma estimativa de custos, que poderão ser da ordem dos valores do mercado municipal (cerca de 450 mil euros).

Vamos ainda ampliar a zona industrial, onde conseguimos legalizar uma área confinante de mais de quatro hectares e submetemos a candidatura às Áreas de Acolhimento Empresarial em maio passado e estamos esperançados que venha a ser aprovada. O objetivo é disponibilizar mais 15 lotes com alguma dimensão – sentimos muita procura por parte dos privados – que serão complementados com um ninho de empresas para negócios mais ligados ao setor da castanha que denominamos Inovcast. No âmbito desta iniciativa vamos recuperar o antigo quartel da GNR no centro da cidade para acolher um Atelier Criativo da Castanha e instalar pequenas empresas que possam gerar mais valias baseadas na castanha. Os nossos parceiros são a UTAD, a Raia Histórica, a AENEBEIRA e a Escola Profissional de Trancoso. No próximo ano vamos continuar a apostar muito no emprego e no empreendedorismo junto do comércio e PME’s trancosenses, que temos que apoiar, acarinhar e incentivar porque são quem dinamiza a nossa economia.

«Centro Escolar da Ribeirinha vai custar cerca de 400 mil euros e esperamos lança-lo ainda este ano»

P – A Câmara vai também lançar a obra de um centro escolar nem Palhais. De que se trata?

R – Trata-se de suprir uma lacuna no ensino primário na zona de Reboleiro e Palhais. Já temos uma verba no pacto da CIM Beiras e Serra da Estrela, bem como financiamento e um terreno em Palhais. Estamos na fase final de elaboração dos projetos de especialidade, uma vez que o projeto de arquitetura foi feito pelos serviços da Câmara. O Centro Escolar da Ribeirinha vai custar cerca de 400 mil euros e esperamos lança-lo ainda este ano. Atualmente há uma turma do primeiro ciclo no Reboleiro e outra em Palhais, mas temos sobretudo três jardins-de-infância que estão a funcionar sem o mínimo de condições. A opção pela construção do centro escolar surge para manter as crianças perto das suas famílias e é um sinal que o município não quer abandonar o seu território. Será um edifício de raiz com salas para jardim-de-infância e para o primeiro ciclo, com capacidade para receber 50 alunos.

Na área do ambiente vamos construir duas ETAR na cidade, a das Courelas e a da Quinta do Seixo, cujas candidaturas foram aprovadas e têm comparticipação. Ambas já foram, ou estão a ir, para visto do Tribunal de Contas e depois iniciaremos os trabalhos muito brevemente para concretizar ainda neste mandato. As empreitadas estão orçadas em 520/550 mil euros cada uma, ainda é um investimento significativo mas que é necessário porque os equipamentos atuais já estão desadequados. Na área do património temos mapeado no pacto da CIM a recuperação da Igreja de Santa Marinha, em Moreira de Rei. É património classificado, na tutela da Direção Regional de Cultura do Centro, mas a Câmara está disponível para celebrar um protocolo para a sua reabilitação e, se necessário, pagar a componente nacional de um projeto orçado em 120 mil euros. Há muitos anos que a população anseia por esta recuperação e creio que iremos concretizá-la em breve.

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