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Há Sempre o Sol

Antes da Troika, da crise do sub-prime e do posterior descalabro financeiro já tínhamos os nossos problemas. Era evidente que o nosso sistema de segurança social é insustentável, ao ir aumentando o número de dependentes e diminuindo o número de contribuintes sem diminuição das prestações. Era evidente que num país em que a pirâmide demográfica se inverteu, em que temos já mais velhos que jovens, o problema ultrapassa em muito a sustentabilidade da segurança social e passa a ameaçar o próprio país. Era evidente também que o Estado não podia continuar indefinidamente a endividar-se e a apresentar défices anuais sistemáticos, necessariamente cobertos com mais dívida. Era evidente ainda que um país assim teria de se repensar e planear o futuro a mais de uma geração, para um dia poder ser sustentável. Era finalmente evidente que para esta tarefa precisávamos de verdadeiros estadistas, daqueles que as gerações futuras pudessem recordar com gratidão.

Mas não. Quisemos mostrar ao Mundo, em mais uma concretização da nossa incorrigível vaidade, que somos um povo com tantas qualidades que podíamos ser governados por qualquer um, por mais inepto que fosse. Talvez o nosso inconsciente colectivo procurasse piorar as coisas propositadamente, que às vezes só mesmo à beira do abismo é que o corpo produz aquela descarga de adrenalina salvadora. Já de outras vezes nos vimos em apuros, e foram muitas, mas acabámos sempre por ultrapassar as grandes tragédias que nos couberam. Ou não?

Sim, em parte, mas se calhar desta vez fomos longe de mais. Elegemos o pior presidente da República e o pior primeiro-ministro da nossa história – e cumprem mandato em simultâneo! Foram eleitos num momento em que era essencial endireitar as contas públicas e resolver o problema da dívida e a primeira ficou na mesma, ou pior, e a segunda está no dobro.

E agora? Agora, meus caros, só se tentarmos piorar ainda mais as coisas. O António José Seguro parece a pessoa ideal para prosseguir o plano mas, repito, não estaremos a ir longe demais?

Em tempo: Acabo de ouvir Passos Coelho, o senhor que finge ser primeiro-ministro, reagir à demissão de Paulo Portas. Foi hilariante, mas penoso. Não seria o momento de Cavaco Silva, o senhor que finge ser presidente da República, acabar com esta palhaçada?

Por: António Ferreira

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