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A minha irmã tem duas filhas, uma pré-adolescente, outra pré-escolar. A mais velha não gosta de brincar com a mais nova e é muito ciente de ser mais representativa em termos etárias. Por outro lado, a mais pequena é mais matreira e consegue muitas vezes aquilo que pretende com as suas maquinações pueris. A mais velha quer sossego e tomar decisões sozinha, a mais nova quer atenção e companhia. A mais velha só se junta à mais nova para brincar se a isso for obrigada pelas circunstâncias ou pelo poder doméstico dos pais. Às vezes uma prima delas aparece por lá para brincar. Como tem quase a mesma idade da prima mais velha, juntam-se as duas, dividem os brinquedos e os papéis dos jogos entre si. A mais nova refila e pede para entrar na brincadeira. As mais velhas nunca cedem aos pedidos insistentes da petiz excepto em duas circunstâncias: quando precisam de um terceiro elemento para executar alguma função acessória ou quando a minha irmã lhes dá um berro, “Brinquem as três juntas ou acaba-se já a brincadeira”. A maior parte das vezes têm brincadeiras parvas mas inofensivas, mas outras envolvem alguns riscos que obrigam a minha irmã a interferir. Ainda tenho mais um sobrinho que, por estar geograficamente distante, nunca participa do arco das brincadeiras.

Logo após Cavaco Silva ter feito a sua comunicação ao país na semana passada, os comentadores ficaram baralhados porque tentaram interpretar as palavras de Cavaco recorrendo à Ciência Política, quando deviam ter usado a chave da pedagogia caseira. Aquele discurso não era do Presidente para os portugueses. Aquilo era a minha irmã a ralhar às filhas.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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