Um jogador profissional de futebol é, para muitos, um oxímoro. Há quem considere incompatíveis as práticas lúdicas com o desempenho de uma profissão paga. Não penso dessa forma. A ser assim, a prostituição seria apenas o hobby mais antigo do mundo. O futebol é apenas um dos trabalhos, a par da ginecologia e dos porteiros de discoteca, em que uns trabalham onde os outros se divertem. Há, obviamente, os praticantes amadores, que têm prazer mesmo em terrenos mais escorregadios e lamacentos, nas condições mais adversas. No futebol passa-se o mesmo. Mas deixemos o amadorismo de lado, que isto é um guia de profissões e não uma lista dos tempos livres das classes populares. Deixo os campeonatos distritais, a sueca e o copo-de-três para os estudiosos da etnografia.
A progressão até ao nível profissional no jogo da bola no pé é semelhante à das carreiras da administração pública: sobe-se de escalão em escalão. Mas os candidatos a jogador devem ter presente que, no âmbito do desporto profissional, a militância no Partido Socialista não garante a titularidade nem no Benfica (embora a disponibilidade física dos membros do gabinete do primeiro-ministro pareça mais robusta que a condição de Nuno Gomes). A classificação etária no mundo futebolístico é bastante precoce. Um jogador chega a sénior com 18 anos, enquanto um cidadão só é sénior depois do 65. Da mesma forma, um tipo pode viver em casa dos pais aos 35 anos, por ainda se achar um jovem, mas um futebolista com 17 anos já não tem idade para ser juvenil. Esta fulminante ascensão pela carreira faz dos jogadores profissionais seres humanos bastante precoces. Quase todos têm filhos antes dos 25 anos e a grande maioria casa-se logo, passados dois ou três anos. Logicamente, antes dos 40 estão reformados da profissão e reconvertem-se em treinadores do Boavista, comentadores da Sport TV ou maridos de modelos.
Uma das falhas do programa governativo que oferece aos portugueses Novas Oportunidades é a não inclusão de planos formativos para futebolistas profissionais. Que deviam incluir formação específica do domínio técnico-táctico, mas também módulos de expressão oral (há ainda muitos jogadores que não sabem referir-se a si próprios na terceira pessoa), de aprender a fazer contas de somar (para saber que uma vitória equivale a três empates) e dividir (para perceber exactamente quanto recebe por dia) e, finalmente, um módulo extenso de estética corporal (um profissional de futebol deve usar a último grito moda em penteados, depilação peitoral e modelos de passerelle).
Em Portugal, esta profissão está vedada às mulheres, uma vez que o futebol feminino não tem expressão profissional no nosso país. Para ganhar a vida com o futebol, uma mulher portuguesa tem duas soluções: emigrar para os países nórdicos ou participar nas festas privadas do Cristiano Ronaldo.
A vida profissional de um jogador de futebol é feita de muita aplicação e trabalho árduo, nomeadamente nos treinos, nas concentrações e nas discotecas. Veja-se o exemplo de jogadores como Miguel, que desenvolvem programas de treino específicos, como arremesso de copos de vidro ou desvio de joelhadas, muito úteis em diversas situações de jogo, sobretudo em equipas de Luís Felipe Scolari.
Por: Nuno Amaral Jerónimo