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Forças naturais

Bilhete Postal

A torrente imprevisível que leva a água dos rios ao mar não carece de ordem ou de leis, balizando o seu volume numa fronteira que é margem e que é ordenamento. A água no seu caudal sempre desigual faz o trajecto do rio construindo um percurso da origem até desaguar. É um movimento contínuo, um fluxo de turba a correr, de multidão afugentada, que nunca volta para trás, que nunca regressa ao lugar de ontem. A água galga a ordem se é muita, destrói as margens e compacta como chega, distribui-se arrasadora, entorna-se nas casa, nas ruas, nas velhas rias que assim transbordam também, e afogam as certezas e as arquitecturas e as pobrezas e misérias e lavam o passado, melhor diria levam-no na corrente. A água que cai lá no Paquistão e que aqui podia chover sobre as chamas em rios de luz, é sempre imprevisível e é sempre livre e determinada. Os homens fazem as barragens que ela ultrapassa zangada, os homens tentam forçar-lhe as margens, educar-lhe os passos e ela muda o caudal e zás, tudo remete e tudo arrasta. Não posso negar que, ao longe, me fascina esta força hercúlea do fogo e das cheias, do calor e das monções, das trovoadas e dos tremores de Terra e não posso negar-lhes a importância do equilíbrio, do balanço que por vezes nos falta. Tudo de modo pouco subtil, tudo de modo parcialmente raivoso.

Por: Diogo Cabrita

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