1. O encerramento de balcões da Caixa Geral de Depósitos, e em concreto o de Almeida, mostra-nos mais uma vez a fragilidade do interior, a debilidade de uma região onde fechar serviços é contribuir para o despovoamento, é dar mais um empurrão contra a resiliência dos que teimam em ficar. Em Almeida, como em tantas outras vilas do país, resistir é a única solução; em Almeida, como por todo o interior, protestar até ao último suspiro é o que nos resta.
Se a Caixa encerrar, Almeida será a única sede de concelho sem uma agência do banco público. E o seu encerramento será mais um cravo no caixão das aldeias e vilas ostracizadas e esquecidas deste país centralista e centralizador. Helena Freitas, da Unidade de Missão – que tantas medidas preconizou, mas de cuja defesa ninguém deu conta – apregoou a ideia “simpática” de que a haver alguma extinção de emprego público, que seja no litoral, porque o interior já não pode perder mais um posto de trabalho. Afinal, no público ou em empresas públicas, quando é para cortar, começa-se sempre pelo interior.
2. Quando há quatro anos se apresentou como candidato à Câmara da Guarda, Álvaro Amaro apresentou um programa diversificado apostando, nomeadamente, em três vetores: requalificação urbana, em especial o Centro Histórico (garantindo vitalidade à Praça Velha moribunda e abandonada pelas pessoas, pelo comércio e pelas instituições); revitalização do Mercado Municipal; dinamização empresarial, em concreto na PLIE. Se a revitalização do mercado parece razoável, a dinamização da Plataforma Logística, com atração de empresas e criação de emprego, é uma deceção (ainda que, naturalmente, fossem tomadas algumas medidas válidas, da descida do metro quadrado dos lotes à reorganização do loteamento, passando pelo apoio à empresa Olano, que já estava instalada há muito na Guarda com crescimento constante ao longo dos anos). O Centro Histórico continua como estava: a “envelhecer” (e cada vez mais abandonado) e a Praça Velha tão letárgica como antes, ainda que se deva reconhecer que com a provável instalação da sede da CIM Beiras e Serra da Estrela poderá ser iniciado o processo de reversão do declínio da zona – fica a faltar um investimento na recuperação patrimonial ou a mobilização dos proprietários para recuperarem as casas.
Mas, muito acima de qualquer plano ou programa, o agora presidente da Câmara prometeu (garantiu) a reabertura do Hotel Turismo da Guarda. E essa é, porventura, a maior frustração de Álvaro Amaro desde que chegou à Guarda. Na verdade, a sua “má relação” com o Hotel começou antes, quando em 2011, depois de encerrado e vendido ao Turismo de Portugal (Estado), gritou, «até que a voz me doa», «não pague!», num clamor que ecoa nos ouvidos dos guardenses, especialmente agora que se vislumbra uma solução (ou a solução). Já era tempo! Quatro anos a “arrastar os pés” foi muito tempo. E nem interessa agora procurar responsáveis, mas, seguramente, os socialistas (Eduardo Brito) não deixarão de recordar que foi o governo (socialista) quem, a priori, resolve “um problema” que Álvaro Amaro não conseguiu resolver com Passos Coelho e o PSD no governo (mesmo quando não podemos esquecer que foi um executivo socialista de má memória quem o fechou – em troca de um projeto de hotel-escola e uma mão cheia de dinheiro que deu jeito aos depauperados cofres municipais). Mas o importante agora é que tudo avance depressa para bem do turismo da região, que precisa de um complexo hoteleiro tão icónico e referencial como o Hotel de Turismo da Guarda, e para a Guarda que tem perdido turistas por falta de uma unidade de referência – e cuja recuperação será também um estímulo para renovar expetativas e elevar a autoestima dos guardenses.
Luis Baptista-Martins