A 15 de outubro de 2017 Abel Pimenta, de 54 anos, viu a sua casa em Vinhó (Gouveia) ser destruída pelo fogo e, passados cinco meses, ainda está à espera que seja reconstruída. O pastor não arreda pé da quinta e dorme num contentor frigorífico para proteger o que lhe resta do rebanho de cabras.
O incêndio levou-lhe a casa, um barracão e alguns animais. Depois da tragédia, a ajuda não tardou em chegar e o presidente da Junta de Freguesia de Vinhó cedo se prontificou a ceder uma casa ao casal, que tem uma filha de 13 anos. Mas, apesar da esposa e da menor dormirem na habitação temporária, Abel Pimenta recusa-se a abandonar as 68 cabras e nem o frio e a chuva que chegaram em força nas últimas semanas o impediram de dormir na antiga câmara frigorífica que comprou para colocar o leite dos animais, e onde cabe pouco mais que o colchão.
«Se não estivesse aqui o contentor já tinham levado o gado. Passam por aqui pessoas para cima e para baixo, se vissem isto abandonado um dia chegava cá e não tinha nada», adianta o pastor, que considera «uma vergonha» o atraso na reconstrução da sua habitação. «O tempo passa e nada. Só promessas», queixa-se Abel Pimenta, que improvisou uma cozinha com blocos «sem cimento nem nada», para se resguardar do frio. «Um senhor ofereceu-me quatro paletes de blocos. Meti uma lona por cima, com uns paus amarrados com cordas, para tapar e podermos comer e refugiarmo-nos da chuva», conta o lesado, confessando que está «ao frio e a comer mal». Abel Pimenta comenta que tem andado «muito mal» devido às condições em que está a viver: «Na semana passada apanhei uma constipação que pensei que ia desta para melhor. Ainda nem curei uma, apanho logo outra», refere.
Apesar da situação não ser animadora, o pastor não esquece a ajuda que recebeu. Ainda assim, esperava mais: «A Câmara prontificou-se logo para fazer um barracão para as cabras, sabe o que me deram? 15 chapas de zinco e quatro manjedouras para os animais», declara Abel Pimenta, acrescentando que o resto fez ele com a ajuda de alguns amigos. A juntar às dificuldades, a alimentação para o gado foi cortada e o pastor diz que «há dois meses e tal» que não recebe rações e palhas. Mas, como a esperança é a última a morrer, Abel Pimenta diz-se «confiante» e espera que a recuperação da casa comece em breve. Confrontado com a situação, o presidente da Câmara de Gouveia garante que «ninguém está a viver em contentor nenhum»: «Esse senhor e a família vivem numa casa, no centro da freguesia, e se o senhor vai dormir ao contentor é opção dele», reitera Luís Tadeu, acrescentando que, como a reparação da casa ultrapassa os 25 mil euros, «esse assunto está a ser tratado diretamente pela CCDR Centro de acordo com as regras que eles próprios fixaram».
O edil reforça que a família está a viver numa casa «com todas as comodidades e condições». E assegura: «Têm tido o apoio da Câmara, bem como de diversas entidades e pessoas que lhes têm fornecido tudo e mais alguma coisa». O INTERIOR contactou ainda Carlos Coelho, presidente da Junta de Freguesia de Vinhó, que se mostrou «preocupado» com o atraso na reconstrução da casa: «Pensei que ia ser um processo muito mais célere», declarou o autarca, recordando que o casal e a filha já «estão há meio ano a viver numa casa minha quando, se calhar, em dois ou três meses se resolvia» a situação.
Contactada por O INTERIOR, a CCDR Centro garantiu que o procedimento de contratação da referida empreitada para os concelhos de Seia, Gouveia e Nelas «será lançado nos próximos dias», tendo a reconstrução da casa de Abel Pimenta um custo estimado de cerca de 29 mil euros, valor que pode aumentar caso seja necessária recontrução total.
Das 1.177 casas ardidas em outubro, apenas 77 já estão reconstruídas
Segundo dados avançados pelo “Público”, das 1.177 casas a reconstruir nas regiões Norte e Centro, 77 já foram reconstruídas e 258 estão em vias de reconstrução.
De acordo com o diário, em Tondela foi adjudicada uma empreitada, no valor de 11,8 milhões de euros, para a recuperação de 94 habitações. Também em Oliveira do Hospital foi lançado um concurso, a 26 de fevereiro, para reconstruir 47 casas por 6,5 milhões de euros. Os concelhos de Mortágua, Tabua e Penacova lançaram um procedimento conjunto para 63 habitações, datado de 2 de março, que prevê custos de sete milhões de euros. Mais 62 casas serão reconstruídas nas zonas de Santa Comba Dão e Vouzela (por 9,5 milhões de euros) e 27 no concelho de Arganil (por 4,2 milhões), de acordo com procedimentos lançados há duas semanas. Além destas reconstruções, o Governo prevê lançar os restantes concursos até abril, referentes às regiões de Gouveia, Seia, Nelas, Mira, Vagos, São Pedro do Sul, Oliveira Frade, Mangualde, Viseu, Góis, Lousã, Pampilhosa da Serra, Oleiros, Sertã e Vila Nova de Poiares.
Ainda há 4.600 clientes sem telefone
Existem cerca de 4.600 clientes sem o serviço de telecomunicações restabelecido após os incêndios do ano passado, segundo a ANACOM. Desses clientes, a esmagadora maioria (99 por cento) pertence à Meo e os restantes (cerca de meia centena) são clientes da Nos e da Vodafone que tinham o serviço suportado pela oferta grossista da Meo. Os números foram determinados pela entidade reguladora «na sequência das reclamações recebidas e dos contactos efetuados com essas populações, com as juntas de freguesia das áreas ardidas e com os operadores de telecomunicações», explicou a ANACOM.
Sara Guterres