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Falta de verbas para investigações preocupa arqueólogos

“Lusitanos e Romanos” é o tema das segundas Jornadas de Património da Beira Interior na Guarda

Começam hoje, na sala da Assembleia Municipal da Guarda, as segundas Jornadas de Património da Beira Interior subordinadas ao tema “Lusitanos e Romanos no Nordeste da Lusitânia”. Esta iniciativa, promovida pela Associação de Desenvolvimento, Estudo e Defesa do Património da Beira Interior (ARA) e pelo Centro de Estudos Ibéricos (CEI), conta com a presença de vários investigadores portugueses e espanhóis nos dois dias da actividade. A falta de verbas para a realização de investigações arqueológicas é uma das maiores preocupações dos arqueólogos.

O seminário destina-se principalmente a divulgar as mais recentes descobertas arqueológicas feitas na região e a debater questões relacionadas com os Lusitanos e a ocupação deste território durante a época romana, adianta Manuel Sabino Perestrelo, dirigente da ARA. Neste sentido, serão abordados temas sobre o I milénio Antes de Cristo e a integração dos lusitanos no “mundo romano”, bem como alguns casos específicos de investigações efectuadas na região. Em cima da mesa estarão os trabalhos do Sabugal e do Sabugal Velho, onde há a registar «grandes novidades», o Castelo dos Mouros de Cidadelhe (Pinhel), o povoamento romano na área da Torre de Almofala (Figueira de Castelo Rodrigo) e a intervenção arqueológica na Póvoa do Mileu (Guarda), que serão apresentados pelos arqueólogos responsáveis pelas prospecções. Contudo, nem só de trabalhos realizados em solo nacional se irá falar, já que, para além da esperada divulgação de «grandes novidades», outro dos propósitos desta iniciativa é a «comparação de dados» entre a Beira Interior e a raia de Espanha, indica Sabino Perestrelo.

As Jornadas vão contar com as intervenções de Jorge de Alarcão, «um grande especialista da arqueologia romana em Portugal», Martinho Batista, director do Centro Nacional de Arte Rupestre, e do espanhol Sánchez-Palencia, um dos «maiores especialistas ibéricos e até mundiais sobre minas romanas», destaca o arqueólogo. Apesar da temática deste encontro se subordinar aos “Lusitanos e Romanos no Nordeste da Lusitânia”, Sabino Perestrelo lamenta que esteja «quase tudo por fazer» em relação aos primeiros. «É curioso que se fale tanto na alma e no povo lusitano, mas que mal se conheça o que se fazia nesse período, onde viviam, o que comiam e vestiam as pessoas», constata, sugerindo uma «maior aposta» no estudo da Idade do Ferro de que se conhecem «poucos sítios e apenas superficialmente», acrescenta. «O problema é que as entidades que deveriam apoiar não dispõem de verbas, o que faz, por vezes, com que os trabalhos arqueológicos não possam ter o devido seguimento», denuncia, exemplificando com o caso do Castelo dos Mouros de Cidadelhe, alvo de intervenção arqueológica em 2002 mas que ficou em «”stand-by”» por falta de verbas. «E ainda hoje se aguarda pela conclusão dessa intervenção», sublinha Perestrelo.

Um cenário que fica a dever-se ao facto das autarquias e do próprio Instituto Português de Arqueologia (IPA) disponibilizarem «poucos apoios», enquanto os fundos comunitários estão mais ligados a obras públicas, «mas também compreendemos que o dinheiro não pode chegar para tudo», admite o arqueólogo. Recorde-se que a primeira edição das Jornadas de Património da Beira Interior decorreu em 1998 e juntou arqueólogos, historiadores e museólogos. A iniciativa culminou em 2001 com a edição das intervenções e trabalhos então apresentados, uma publicação que vai agora ser distribuída aos participantes.

Ricardo Cordeiro

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