Aos sete e oito anos começou a dissecar todos os bichinhos que lhe apareciam à frente, pegava num canivete e cortava-os para ver como eram por dentro. Ambicionou desde pequeno ser médico, apesar dos pais não aceitarem essa decisão de ânimo leve. Mas a sua determinação foi mais forte e tornou-se num dos primeiros cirurgiões do país. Durante 25 anos dirigiu os destinos do Hospital da Guarda, primeiro da Misericórdia e depois já com a integração do Sanatório Sousa Martins. Silvano Marques morreu aos 91 anos, no último fim-de-semana, no Hospital Universitário de Coimbra (HUC). Um médico que marcou toda uma época no distrito da Guarda.
Em 1937 foi fazer o exame à Faculdade de Medicina de Coimbra, à socapa dos pais, como o próprio recordou há dois anos numa entrevista ao jornal “O Interior”. Em Novembro de 1954 foi convidado pelo Governador Civil da época, Augusto César de Carvalho, para dirigir o Hospital da Guarda que se encontrava então fechado. Foi-lhe entregue pela Santa Casa da Misericórdia a direcção do hospital e a direcção clínica da cirurgia. Nesse tempo, o Hospital da Guarda passou a servir de apoio cirúrgico entre o Tejo e o Douro. Quando veio para a Guarda deixou a direcção do Hospital de Elvas, sua terra natal, e trouxe a família. Em 1971 foi eleito presidente da Comissão Nacional para a Integração na Carreira Médica Hospitalar dos Médicos dos Hospitais Distritais das Misericórdias. Na altura conseguiu integrar 1.250 médicos na função pública, que foi uma das suas bandeiras. Entretanto foi enchendo o “hospital velho” de novas especialidades e mais médicos. Assim surgiram a radiologia, obstetrícia, pediatria, ginecologia, cardiologia, laboratório de análises e uma farmácia hospitalar. Quando completou 70 anos, em 1985, saiu da função pública por força da lei. Nessa altura dedicou-se à medicina privada num consultório da Rua Mouzinho de Albuquerque, na Guarda.
Para além de ser conhecido por falar muito alto, também ficou famoso pelas suas “engenharias”. Criou a sua própria cirurgia, operava à sua vontade, fazia as suas ligações, e assim, salvou muitos pacientes. O problema acontece, ainda hoje, quando fazem uma radiografia aos seus doentes e os seus colegas não entendem aquelas ligações. No entanto, «já todos sabem que aquilo é uma das engenharias do dr. Silvano», costumam dizer os colegas.