A Comissão Europeia (CE) aprovou no início do mês uma comparticipação de 45,8 milhões de euros para a construção do novo bloco hospitalar do Sousa Martins, na Guarda. O edifício, já em funcionamento, é a parte mais visível da primeira e única fase de requalificação da unidade, com Bruxelas a considerar que o novo bloco «veio aumentar a funcionalidade e a qualidade» dos serviços de saúde da região.
Este financiamento é proveniente do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e destina-se igualmente à aquisição do novo equipamento ali instalado, «em sintonia com o planeamento do serviço de saúde de Portugal e com as prioridades definidas no Plano Nacional de Saúde 2004-2010», recorda a CE em comunicado. No mesmo documento, a Comissão lembra que o apoio à concretização de “grandes projetos”, cujo investimento total (IVA incluído) é superior a 50 milhões de euros – o hospital da Guarda terá custado mais de 55 milhões de euros –, está sujeito «a uma decisão específica da Comissão Europeia, contrariamente a outros tipos de projetos cuja aprovação se faz ao nível nacional ou regional». A decisão de cofinanciamento para este projeto é abrangida pelo período de programação de 2007-2013.
Ora, esta informação apanhou tudo e todos de surpresa e a razão é simples: as administrações que sucederam a Fernando Girão, último presidente do Conselho de Administração (CA) da ULS da Guarda nomeado pelo PS e que cessou funções em 2011, bem como alguns governantes sociais-democratas da área da Saúde, sempre disseram que os antecessores não tinham candidatado a obra aos fundos comunitários. Quatro anos depois, o líder da concelhia socialista da Guarda veio a terreiro constatar o óbvio: «Verificamos agora que o conselho de administração de então fez o seu trabalho e, pior, já não temos dúvidas que a segunda fase não foi para a frente por interesse partidário», disse João Pedro Borges. Em conferência de imprensa realizada na quinta-feira, o líder socialista criticou as administrações hospitalares nomeadas pelo anterior governo e pediu a demissão da equipa de Carlos Rodrigues, atual presidente do CA empossado em fevereiro e com comissão de serviço por três anos, por «não saber quanto falta receber, o que foi financiado e o que foi pago» por parte da CE.
Dizendo que estas declarações [à Rádio Altitude] eram «infelizes, no mínimo», o dirigente considerou que «é tempo de haver alguém competente na administração e que faça funcionar a ULS da Guarda». João Pedro Borges anunciou que já solicitou uma audiência ao ministro da Saúde porque «é óbvio que pretendemos uma nova administração da ULS», pois a atual está «assombrada por factos estranhos, como os concursos para auditores, o email partidário enviado por um funcionário hospitalar e os casos mal explicados da ressonância magnética e dos broncofibroscópios». O dirigente socialista criticou ainda o ex-ministro Paulo Macedo por ter nomeado «três CA em quatro anos», dizendo que «isso é que é irresponsabilidade». Quanto ao dinheiro que vem de Bruxelas, João Pedro Borges sugere que seja investido no Parque da Saúde e no Sousa Martins, «onde ainda faltam coisas para o hospital funcionar como deve ser». No final de novembro, a ULS enviou para fiscalização do Tribunal de Contas (TdC) o processo da empreitada do novo bloco hospitalar.
Luis Martins