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«Investigação permitiu identificar possíveis terapias para o cancro

Cara a Cara – Cátia Vaz

P – De uma forma sintética, em que consistiu a sua investigação? Qual foi o objetivo?

R – A minha tese de doutoramento teve como principal objetivo avaliar o efeito dos androgénios (a principal hormona masculina) e da Regucalcina (uma proteína que se encontra diminuída em casos de cancro da próstata comparativamente aos não neoplásicos) na regulação da proliferação, sobrevivência e metabolismo das células da próstata, e as suas implicações no desenvolvimento do cancro. Os resultados deste estudo permitiram confirmar os androgénios como os “grandes amigos” das células tumorais, uma vez que estes promovem o aumento da proliferação e do metabolismo das células da próstata. Esta foi precisamente a grande novidade deste estudo, dado que era conhecido que os androgénios promoviam o crescimento e proliferação das células da próstata, mas aqui demonstrámos que estas hormonas são igualmente importantes reguladores do metabolismo e que essa ação se encontra associada à progressão dos tumores para fases mais agressivas da doença. Por outro lado, verificou-se também que os níveis de expressão da Regucalcina nas células da próstata são regulados em resposta a diversos fatores de risco associados ao desenvolvimento do cancro da próstata, o que veio enfatizar o papel desta proteína na fisiologia da próstata. Este estudo permitiu ainda concluir que a característica perda de expressão da Regucalcina com a idade pode levar ao desenvolvimento de doenças associadas com o envelhecimento, tal como o cancro da próstata.

P – Que aplicação tem os resultados da investigação?

R – Os resultados desta investigação abriram portas para explorar o desenvolvimento futuro de possíveis terapêuticas para o cancro da próstata, que passariam por inibir algumas proteínas envolvidas nas vias metabólicas em conjunto com terapias anti androgénicas, bem como pela manipulação dos níveis de expressão da Regucalcina no tecido prostático no sentido de poder vir a utilizá-la como possível proteína terapêutica.

P – Teve 20 valores na sua tese de doutoramento, isso vai abrir-lhe portas para projetos futuros?

R – Penso que uma classificação de “Excelente” será sempre uma mais-valia no currículo em futuros concursos, uma vez que para além da capacidade de trabalho pessoal e em grupo, realça também o projeto que foi desenvolvido e que culminou com algumas ideias para futuras terapias para o cancro da próstata, que é uma das principais causas de morte por cancro na população masculina a nível mundial. Mas acima de tudo, significa o reconhecimento de um trabalho de vários anos e do valor que temos enquanto investigadores, dando-nos motivação para fazer sempre mais.

P – Tenciona ficar pela Beira Interior, ou já teve convites para trabalhar fora?

R – Ainda não tive convites, mas gostaria de dar continuidade ao trabalho do doutoramento e permanecer no interior, e estou a perspetivar um possível concurso a bolsa pós-doutoramento. No entanto, com a crise económica que se vive, mesmo na investigação os financiamentos já estão bastante limitados, o que nos leva também a abrir horizontes e a considerar concursos para posições de investigação dentro e fora do país.

P – Os resultados da sua investigação estão a ser aplicados nalguma unidade hospitalar?

R – Os resultados permitiram-nos identificar algumas possíveis terapias para o cancro da próstata, mas que ainda necessitam de muitos estudos tanto in vitro como in vivo para poderem ser aplicadas posteriormente em tratamentos oncológicos em humanos. É um trabalho que se pretende continuar no grupo de investigação onde desenvolvi o meu trabalho de doutoramento, sendo liderado e orientado pela professora Sílvia Socorro. Ainda há um longo caminho a percorrer.

P – Quais são os próximos objetivos?

R – Tendo em conta os resultados obtidos, o próximo passo será aplicar em modelos celulares e animais terapias combinadas com anti-androgénios e inibidores das vias energéticas que se encontrem mais ativas nas diferentes fases de progressão tumoral na próstata, e avaliar a proliferação, morte celular e capacidade de invasão das células tumorais. Também avaliar a melhor alternativa para promover o aumento da expressão da Regucalcina especificamente no tecido de modo a estudar os efeitos desta proteína na inibição da progressão tumoral ou mesmo na prevenção do desenvolvimento de cancro da próstata.

Perfil:

Naturalidade: Covilhã

Idade: 28 anos

Profissão: Investigadora, recém-doutorada a aguardar colocação pós-doutoramento

Currículo: Licenciada (2008) e mestre (2010) em Ciências Biomédicas pela Universidade da Beira Interior; bolsa de estágio da IAESTE com trabalho desenvolvido no grupo de investigação “iBiTech – bioMMeda” em Gent (Bélgica); bolseira de investigação (2010/2011) financiada através do protocolo UBI/Banco Santander Totta; bolseira de doutoramento (2011-2014) financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT); investigadora (2009-2015) no Centro de Investigação em Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (CICS-UBI) no grupo “Endocrinologia e Reprodução”- Doutorada em Biomedicina pela Universidade da Beira Interior (2015).

Filme preferido: Filmes de drama/Romance

Livro preferido: Série “Crossfire”

Hobbies: Viajar, ler, ginásio, jogar futebol com amigos, convívio social com família e amigos

Cátia Vaz

Sobre o autor

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