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Enquanto o Governo Dorme

Quebra-Cabeças

A prova da existência deste governo tem sido feita através da verificação das suas muitas asneiras. Os últimos dias têm sido mais calmos nesse aspecto e, seja por imposição dos consultores de imagem ou seja porque não têm realmente nada para dizer, o silêncio tem sido regra. Os mais optimistas acreditarão que o governo tem preferido trabalhar, enquanto os pessimistas suspeitarão que, dominada boa parte da imprensa e da crítica, as asneiras que se continuam a cometer perderam foi a sua exposição pública. Seja como for, começam a surgir problemas que reclamam a existência de um governo a sério.

Fala-se pouco do gasóleo, a não ser para verificar mais uma subida. A verdade é que as transportadoras, e as empresas em geral, se vêem fortemente dependentes das flutuações do seu preço. Contava-me um cliente, gerente de uma pequena empresa de transportes internacionais de mercadorias, que as recentes subidas do preço do gasóleo tinham aumentado a sua factura de combustíveis em mais de 15.000 euros mensais. Isto representava o esboroar da sua margem de lucro e a impossibilidade de continuar a expandir-se. A partir de agora não se pode pensar em comprar mais viaturas ou contratar mais motoristas e, se os preços continuarem a subir, haverá que pensar em fechar as portas.

A verdade é que era previsível, e independentemente da actual crise no Médio Oriente, se não uma clara subida do preço do gasóleo, pelo menos a sua aproximação ao preço da gasolina – como acontece no resto da Europa. Entretanto, em Portugal, a diferença de preços entre os dois combustíveis provocou um aumento exponencial do parque automóvel movido a gasóleo, que representa já mais de metade do total. Infelizmente a produção das nossas refinarias está vocacionada sobretudo para a gasolina, o que implica desequilíbrios na relação entre a oferta e a procura e, só por si, aumentos de preços.

Se acrescentarmos a este cenário os problemas globais resultantes do aumento da procura de petróleo, conjugado com a sua previsível baixa de produção, até porque não têm aparecido novas jazidas, então a coisa complica-se ainda mais. Em Portugal, pelos vistos, estamos quase totalmente dependentes de uma fonte de energia com fim à vista e para a qual não estão a ser criadas alternativas válidas. É verdade que não há alternativa, para já, aos combustíveis fósseis como fonte de energia para os veículos automóveis. Mas a iluminação e o aquecimento das casas, a energia eléctrica para a indústria ou para os comboios, não têm de se basear no petróleo.

Noticiavam os jornais que está previsto o desbloquear do licenciamento de mais parques eólicos, o que é uma boa notícia, mas é mesmo assim insuficiente. Sugere-se também avançar com mais barragens, incluindo a de Foz Côa (e adeus gravuras rupestres). Num autêntico teste à opinião pública, volta a falar-se da hipótese do recurso à energia nuclear. Há umas semanas atrás, escrevia-se no Expresso que em Portugal bastariam três centrais nucleares para resolver o problema energético.

A triste realidade é que nesta altura já deveria estar a ser concretizada no terreno uma qualquer solução para o problema mas, em vez disso, deixou-se agravar a dependência energética do país e nem sequer se colocaram à discussão pública as várias alternativas. Sim, que vai haver discussão e da grossa.^

Por: António Ferreira

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