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Encélado

Mitocôndrias e Quasares

No mundo da Ciência a semana ficou marcada pelo comunicado da Associação Americana para o Avanço da Ciência que deu a conhecer a existência de moléculas de hidrogénio em Encélado, uma das luas de Saturno, fornecendo uma nova pista sobre a possibilidade do satélite albergar vida.

A equipa responsável por este trabalho refere que esta fonte de hidrogénio, detetado em vapor de água na região polar sul, resulta de reações hidrotermais entre rochas quentes e água no oceano sob a superfície gelada da lua Encélado. Esta descoberta abre novos caminhos de investigação, na medida em que as moléculas de hidrogénio, tal como as de dióxido de carbono, são consideradas ingredientes importantes para um processo conhecido como metanogénese, uma reação que suporta a vida de microrganismos em ambientes submarinos profundos e escuros na Terra.

Saturno é o segundo planeta do sistema solar, uma espécie de Júpiter mais pálido, mas com uma composição semelhante. Saturno, como todos os planetas gasosos, tem um sistema de anéis, embora os seus sejam, sem dúvida, os mais elegantes, facilmente visíveis da Terra apenas com um pequeno telescópio. São compostos por um número imenso de pequenos blocos de gelo em órbita à volta do planeta, como satélites independentes, alguns tão grandes como uma casa. Outro aspeto interessante de Saturno é a sua forma. Devido à sua rápida rotação – uma volta em torno de si próprio a cada 10 horas13 minutos59 segundos – é claramente achatado nos polos.

Outra característica interessante de Saturno é possuir o segundo maior campo gravitacional, o que lhe permitiu atrair e prender um grande número de asteroides, transformados em satélites. Atualmente conhecem-se 60 satélites de Saturno. Mais uma vez, como acontece com Júpiter, Saturno tem alguns satélites de dimensões consideráveis, que não são meros asteroides capturados. No entanto, à exceção de Titã, todos são consideravelmente mais pequenos que a nossa lua e os satélites galileanos de Júpiter. Contudo, Titã é um caso à parte, com um nome que lhe assenta especialmente bem. Com 5.150 km de diâmetro, é o segundo maior satélite do sistema solar, de longe, maior que qualquer dos outros satélites de Saturno. Mas o que é mais interessante é que Titã tem uma atmosfera densa de azoto, o único satélite com um céu substancial.

Quanto a Encélado, este satélite tem um diâmetro de 500 km, coberto de uma crosta gelada e pouco ativa com uma espessura que ronda os 30 a 40 quilómetros. Contudo, o seu interior é muito ativo. Em 2005, a NASA descobriu que no hemisfério sul existe uma nuvem de gelo que se forma devido à presença de vários geiseres que libertam materiais do interior de Encélado. Passados 10 anos, a sonda Cassiniez teve uma aproximação considerada histórica a Encélado, ao posicionar-se a 49 quilómetros da região polar sul, permitindo a recolha de dados mais precisos sobre a composição da lua, inclusivamente sobre a sua atividade hidrotermal e o seu impacto na possibilidade do seu oceano acolher formas de vida simples. Contudo, esta sonda está no limite da sua utilização, pelo que a questão que se coloca é saber como continuar a explorar esta lua de Saturno. Uma missão designada por Enceladus Life Finder já está pensada, apesar de ainda estar a lutar com outras missões para ver a luz do dia. Quando penso nesta descoberta vem-me sempre à mente a seguinte interrogação: quais seriam as implicações de detetar vida numa pequena e remota lua de Saturno?

Por: António Costa

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