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Eleições Marvel

Observatório de Ornitorrincos

O país espera por amanhã para saber as razões de Jorge Sampaio para se ter lembrado de dissolver a Assembleia de República. Chato regime constitucional este, em que para mandar embora o governo é preciso chatear o parlamento. Não há alma agora que não acredite que a decisão anunciada a semana passada foi uma vitória do Bem contra o Mal.

A situação política portuguesa contada pela imprensa e pela televisão parece agora um número especial sobre combates de mutantes da Marvel. De lado dos bons, o Homem Dissolvente, do outro o Surfista Dissoluto. Ao lado do primeiro, qual Robin com Batman, mas roupas mais decentes, o Homem (Depois) de Ferro. O ajudante do Surfista, o Mago das Feiras, pondera uma carreira a solo. A título particular e determinados a destruir o Surfista Dissoluto estão o Super-Pai e o Líder-Man, apesar da titânica luta que travaram entre si nos seus tempos de glória. Também no campo dos adversários dessa terrível ameaça anunciada para a Humanidade encontramos o Homem de Louça e o Ex-Man Estaline Dançante. Na armada dos vilões, apenas o Rei da Ilha, o Princípe do Norte e outros mutantes malignos com poucos poderes.

Em 1986, Jorge Palma compôs uma canção intitulada O Homem Invisível. Dezoito anos depois da sua escrita, o Surfista Dissoluto trocou a palavra “invisível” por “dissolvente” e anda agora a cantá-la pelas esquinas do país a todos aqueles que ainda lhe dão ouvidos.

O homem dissolvente decidiu dar cabo de mim

A sua presença é um convite permanente para a depressão

Estou sempre à espera de mais algum dos seus golpes baixos

Empurra-me para labirintos donde não há evasão

Ele já sabe há muito tempo que eu não posso detê-lo

Já sabe há muito tempo que eu não tenho meios para o apanhar

Sou eu quem dá a cara

Quem desperdiça a força que ele acaba por neutralizar

O homem dissolvente foi uma péssima invenção

Vive à custa do meu mal e não tem nada de bom para dar

E embora, às vezes, ele faça aliciantes promessas

Nenhuma delas até hoje me conseguiu acalmar

Nos próximos fascículos, saberemos o desenrolar da história. Os conhecedores do universo Marvel sabem que nem sempre os heróis bons vencem no fim. Pessoalmente considero deprimente ter de escolher entre o Homem Dissolvente, o Homem (Depois) de Ferro e o Surfista Dissoluto. Preferiria claramente optar pelo Homem-Aranha, que tem sentido de humor, pelo Hulk, que tem sentido de ridículo, ou (como primeira escolha) pelo Batman, que tem sentido de honra. Em comum, todos têm consciência dos seus poderes e das suas limitações. Como qualquer ser humano.

EU VI UM ORNITORRINCO

José Manuel Barroso

Espécie de ornitorrinco que costuma esconder-se fora dos charcos como presidente da comissão dos habitats unidos quando a vida não está a correr bem. Quando volta à chafurdice caseira mostra-se desinteressado e não comenta a situação pantanosa em que vivem os animais que nele depositaram alguma esperança.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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