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É uma coisa muito feia, a inveja

Ladrar à Caravana

A semana que passou ficou marcada pelo reconhecimento público dos relevantes serviços prestados ao País e mesmo à Pátria pela ex-ministra da Justiça Celeste Cardona. Entendo ser a sua nomeação para um lugar na administração da Caixa Geral de Depósitos, o natural culminar desse processo de gratidão. Claro que neste país de invejosos e mesquinhos se levantou de imediato um clamor contra os tachos e as reformas douradas dos antigos responsáveis pela condução da coisa pública. Que se fosse privado, ainda estavam como o outro, mas agora no banco do Estado, a receberem salários milionários, enquanto tratam da papelada para a reforma é que já não podia ser nada… enfim, o costume. Somos mesmo uma populaça reles e mesquinha que não merecemos o sacrifício destas elevadas e esforçadas pessoas, que tiram noites à cama e à família sempre a pensar em nós, na nossa felicidade e na nossa elevação de povo do terceiro mundo a verdadeiros europeus.

E como é que se pode fazer uma coisa dessas sem grandes convulsões sociais? Fazendo testes em si próprios – alguns com elevado grau de perigo – a experimentar se conseguem sobreviver com o parco salário de um administrador da Caixa ou da EDP ou da GALP, mantendo um adequado perfil europeu. Não é fácil, que julgam? Sabem quanto custa manter um carro adequado ao perfil? Um fato ou tailleur assinado? Pensam que essas pessoas podem viver num simpático T2+1 na Buraca ou na Curraleira? Ou que podem comprar os móveis de design no IKEA? Ou comprar os perfumes e afterxeives no Jumbo? Ou almoçar na tasca do Lopes? Claro que não! E tudo isso custa os olhinhos da cara. Só não vê quem não quer, francamente!

É profundamente injusto acusarmos essas boas almas de estarem ali só pelo tacho ou para se governarem. Não. Não se esqueçam que os amigos, os familiares até vários graus de distância, os presidentes dos clubes de futebol, os correligionários do partido, formam no seu conjunto uma multidão que não pode ser esquecida, que faz inclusivamente parte dessa experiência de europeização da populaça. Por onde começar a transformação sem ser naqueles que em nós depositam maior confiança? Francamente, haja justiça. É uma coisa muito feia, a inveja…

Termino apenas com um aviso amigo para os responsáveis políticos desta Nação: é de toda a conveniência que travem esse processo das privatizações de empresas públicas. Não se devem privatizar, por exemplo a CGD, a GALP ou a EDP, pois se o fizerem, rapidamente deixa de haver para onde enviar ex-ministros em fase de pré-reforma. É que pela ordem natural das coisas, são vocês os senhores que se seguem. Vale a pena pensar nisto.

Por: Jorge Bacelar

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