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Creche dos pequeninos nasce na Guarda

“Jardim da Luz” segue conceito educativo inovador e adaptado à escala dos mais pequenos

«Só tenho pena de ter nascido tão cedo», confessa António Caldeira, técnico superior da Câmara da Guarda, após visitar a nova creche do Bairro da Luz. O novo equipamento educativo da autarquia foi baptizado de “Jardim da Luz” e apresenta-se como um modelo a seguir no futuro pelo conceito inovador e atitude organicista que lhe deu origem. «Este é o tipo de projecto que pode servir de modelo para o futuro», adianta o engenheiro, para quem esta creche é um verdadeiro «luxo».

O investimento ronda os 520 mil euros, numa área total de cerca de 500 metros quadrados, «mas não temos capacidade financeira para realizar outras escolas com esta qualidade», lamenta António Caldeira. No entanto, acredita ser este «o caminho certo» a trilhar no âmbito das infraestruturas escolares do município, sendo necessário para tal a «boa vontade» entre quatro agentes, ou seja, a autarquia, o projectista, o empreiteiro e a fiscalização: «Neste caso conseguimos conciliar essas quatro vontades», acrescenta.

Neste momento estão a ser concluídos os últimos preparativos para a abertura (como a aquisição de material), prevista para dentro de algumas semanas. Existem já 50 inscrições para futuros utentes, mas a autarquia já solicitou autorização para mais turmas, uma vez que o espaço tem uma capacidade máxima para cerca de 65 crianças. «Com este e outros projectos, há uma notável aposta na qualidade do ensino por parte da autarquia», realça António Caldeira. Os arquitectos João Cláudio Madalena e Cláudia Quelhas são os mentores do “iluminado” projecto, onde tudo se adapta à escala dos mais pequenos, desde as casas de banho aos jardins exteriores, que são autênticos jogos labirínticos.

«Era importante criar espaços adequados à escala real das crianças», explica o primeiro, adiantando que neste caso a legislação em vigor foi «um problema». «Fizemos as coisas à dimensão do utilizador, as crianças, pois todos os recantos servem de espaços recreativos e lúdicos. As três salas de actividade têm espíritos e princípios diversos, como cores diferentes para que os miúdos tenham sensações diferentes em cada espaço», revela o arquitecto. Cada uma tem temáticas diferentes, escolhidas pelas educadoras de infância que ali irão trabalhar (o conto, o audiovisual e a expressão plástica), para além de uma sala polivalente com múltiplas funções, que ora será uma zona recreativa ou o refeitório, com uma capacidade para 25 crianças. A grande característica desta sala é poder transformar-se consoante o uso, através das cortinas extensíveis que permitem aumentar ou reduzir o espaço disponível. Mas há mais, é que esta sala está preparada para dispor de um palco para as festas dos pequenos, ou de uma tela para projecções de filmes ou outras imagens. De resto será um espaço disponível para todo o género de brincadeiras. O mesmo princípio da diversidade em relação ao espaço foi aplicado nas casas de banho, e apesar de ser uma zona comum para todas as crianças, «as cores permitem que os mais pequenos comecem a ter as suas preferências», refere João Cláudio Madalena.

Esta filosofia da diversidade é uma constante no projecto e foi aplicada também na mobilidade das crianças. Assim, elas podem mudar de sala durante o dia, o que também funciona «em termos de pedagogia da criança, pois permite que não estejam agarrados a um só espaço», refere o arquitecto. Dado chamar-se “Jardim da Luz” a luminosidade foi uma das preocupações principais. Todas as aberturas são de grande dimensão e há leituras diferentes dos espaços. Por um lado, contrasta-se a «atitude organicista do exterior com alguns elementos muito orgânicos do interior», com uma atitude mais rígida na própria concepção do espaço. Esta dualidade cria ligações às vezes interessantes: «Aqui sentimos o espaço completamente linear e lá fora sentimos a ondulação», exemplifica João Cláudio Madalena. «Procurámos uma noção da luminosidade do exterior para o interior», por isso as passagens são feitas sem grandes contrastes e há sempre uma luz que vem do exterior. Até as próprias paredes e uma parte do tecto são iluminados pela luz do dia. No exterior, os jogos labirínticos «dão vontade de fazer percursos e gincanas», brinca o arquitecto, enquanto as restantes áreas externas irão dar lugar a espaços verdes. Segundo Filomena Rebelo, educadora de infância e técnica do pelouro da Educação na Câmara da Guarda, este novo conceito vai «beneficiar a educação das crianças e sobretudo a educação pré-escolar, pois há pormenores que podem fazer a diferença», realça.

O mapa das obras nas escolas do concelho

Para além da nova creche do Bairro da Luz, existem outros projectos educativos da Câmara da Guarda, alguns deles já concluídos e outros na “calha” para serem projectados. Segundo António Caldeira, do pelouro da educação da autarquia, o executivo tem feito «bastante pelos edifícios escolares», caso da Espírito Santo, Adaes Bermudes, Augusto Gil, Bonfim e dos jardins de infância do Adão e Guarda-Gare, por onde as obras já passaram. Em construção encontram-se ainda os edifícios das escolas do bairro de Nossa Senhora dos Remédios e de Alfarazes. Em fase de acabamentos está a reconstrução da escola de Videmonte, «em que todos os revestimentos foram substituídos e melhorou-se o espaço do recreio, que foi coberto e aproveitado para salas polivalentes», acrescenta António Caldeira. Também na localidade da Vela estão em fase de conclusão as obras de remodelação da escola local, que a autarquia espera ter prontas dentro de quinze dias, repetindo-se o mesmo cenário em Casal de Cinza e na Castanheira. «A nossa preocupação é fazer cada vez melhor, tendo em conta também os limites de custo» sublinha o responsável. Para breve estão ainda as intervenções na Santa Zita, a maior da cidade para o 1º Ciclo, e nas Lameirinhas. A novidade consiste no lançamento de um programa-concurso para um centro escolar em Gonçalo. «Trata-se de um convite para os projectistas fazerem um projecto para esta localidade», adianta o engenheiro. Entretanto, vai nascer na Sequeira um novo espaço para apoiar as famílias do jardim de infância – a chamada Componente de Apoio à Família. Abrange crianças de uma faixa etária entre os três e seis anos de idade (ou até ao ingresso no ensino básico). De resto já existem vinte e três serviços deste género no concelho da Guarda, tendo sido reclamado pela associação de pais local.

Patrícia Correia

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