1. Mais do que as sondagens, a tendência nos estudos de opinião conferem um ascendente à coligação PSD/CDS. Comparativamente com as legislativas de 2011, os partidos de direita, agora coligados, deverão perder mais de meio milhão de votos, porém o inacreditável há poucos meses poderá acontecer: o PS pode perder as eleições.
A forma como António Costa e o PS têm desbaratado os créditos com que partiram para estas eleições é um caso de estudo e devia merecer uma reflexão urgente ao secretário-geral do PS e a todos os socialistas. Porque a falta de alternativa é culpa do PS; a falta de afirmação da alternativa socialista é culpa de António Costa. O Partido Socialista radicalizou o discurso, quis ganhar votos à sua esquerda, falou para o eleitorado comunista e bloquista, quando devia falar para o centro, para os descontentes com Passos e Portas, para os tais indecisos que em 2011 votaram à direita e agora poderiam votar no PS. Para os mais de meio milhão de eleitores que votaram PSD e agora não sabem onde votar… Bastava a António Costa falar para eles, conquistá-los e assim conquistar o centro e o centro-esquerda. Afinal, quem tinha de estar calado era Costa.
2. Embalado pelas sondagens, a coligação “Portugal à Frente” não discute cenários que não passem pela vitória. Mas Passos Coelho já decidiu que se o PS ganhar as eleições sem maioria, o seu partido viabilizará o Programa de Governo e o Orçamento do PS… Uma simples declaração que contribui para dar alicerces a uma vitória; uma alocução serena que assegura apoio e votos; uma afirmação política que antecipa estabilidade governativa – tudo ao contrário do que promoveu a afirmação de António Costa de que chumbaria o Orçamento caso perdesse as eleições, mesmo antes de o conhecer.
As ténues e pouco relevantes mas constantes melhorias de indicadores como o desemprego, a confiança dos consumidores, o crescimento do PIB e a atenuação da austeridade podem justificar que muita gente zangada com o PSD e o CDS opte, afinal, por votar de novo na coligação.
3. De acordo com a Constituição os deputados eleitos para a Assembleia da República são deputados da Nação. Os defensores deste pressuposto, de que a sua eleição pelos distritos é meramente circunstancial, consideram pois que os deputados devem defender (votar) o que supostamente é de interesse nacional e não o que eventualmente interessa ao distrito que os elege. Esta tese tem pergaminhos e fez escola. De facto, o princípio Constitucional define a natureza nacional do eleito – deputado da República – mas se não há dúvidas, nem se contesta a dimensão nacional e a sua representatividade, do que também não deve haver dúvidas é que se são eleitos pelo distrito é a representação do distrito que deve ser feita. Se em assuntos do estrito interesse nacional, como as grandes opções do Estado, a guerra e a paz, o Orçamento de Estado e outras decisões, leis ou opções de caráter absolutamente fundamental para o país, o deputado deve ter um entendimento e uma decisão de interesse nacional, nos demais assuntos deve defender os interesses do distrito que o elege. Enquanto os deputados não tiverem esta perceção e este entendimento, de nada serve ter deputados eleitos pelos nossos distritos; enquanto elegermos meia-dúzia de pessoas que estão no parlamento para se dobrarem perante as decisões dos respetivos grupos parlamentares e votar de acordo com as vontades do chefe; enquanto os quatro deputados do distrito da Guarda e os quatro deputados de Castelo Branco não tiverem coragem de pensar e representarem os anseios e interesses da população que os elege, então de nada serve votar e eleger deputados pelos nossos distritos. Até podia haver uma lista única a nível nacional. Se nada mudar politicamente, vamos continuar longe do Terreiro do Paço; a coesão que tantas vezes Portugal reclama na Europa (e que tem significado milhões de euros em fundos de coesão), não é replicada no território nacional: Lisboa pede coesão em Bruxelas, mas os nossos deputados envergonham-se pedir coesão nacional.
Luis Baptista-Martins