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Dois Entrudos para queimar na Guarda

Cortejos/espectáculos de Carnaval acontecem na mesma noite em Famalicão e na cidade

O Entrudo está este ano no centro de uma confusão do “arco da velha” na Guarda. Tanto assim, que, na noite que antecede o Carnaval, haverá dois cortejos/espectáculos do género, um em Famalicão e outro na cidade. Tudo porque a autarquia decidiu entregar o evento à Culturguarda por metade do preço exigido pelo projecto “Todos à Roda”, que reclamou 50 mil euros para voltar a realizar o “Enterro do Entrudo”.

Em conferência de imprensa, na segunda-feira, Joaquim Valente elogiou o trabalho dos parceiros do ano passado, mas avisou que «ninguém tem o monopólio de nada, nem há compromissos eternos». Isto para dizer que, da edição anterior, tinha ficado com «a expectativa» de que era possível produzir um espectáculo «semelhante e até com menos custos», porque muitos adereços já estavam feitos. O presidente até recusou a ideia de que a Culturguarda servisse como “pronto-socorro” da Câmara na organização de uma iniciativa que «tem que marcar a agenda do ano» na Guarda, como pretende o edil. «Estamos cá para gerir dentro dos parâmetros financeiros que consideramos os mais adequados», sublinhou. Virgílio Bento recordou depois os contactos com os responsáveis do “Todos à Roda”, que envolve o Centro Cultural de Famalicão, o Aquilo Teatro e a Associação Raiz de Trinta.

«Em 2007 a Câmara atribuiu 25 mil euros, mas este ano queriam o dobro e 50 por cento pago até 15 de Dezembro», referiu, acrescentando que a autarquia não queria ultrapassar a verba concedida anteriormente. Situação que Victor Amaral, do Centro Cultural de Famalicão, confirmou à Rádio Altitude. O vereador com o pelouro da Cultura revelou também que a empresa municipal só foi abordada depois de esgotada a possibilidade de entendimento. «A Culturguarda foi contactada a 23 de Dezembro e aceitou realizar o evento por 25 mil euros», disse, adiantando que o cortejo de Famalicão não é apoiado pelo município. Por sua vez, Américo Rodrigues, director do TMG, fez questão de realçar que esta tradição é um «ritual de várias aldeias do concelho e de nenhuma em particular». Polémica à parte, o galo vai voltar a sair à rua para carregar as culpas de todos os insucessos e problemas do ano que findou. Por isso, a Guarda vai queimá-lo na noite de 4 de Fevereiro, na Praça Velha.

O “Julgamento e Morte do Galo do Entrudo” é um espectáculo coordenado por Américo Rodrigues, também autor do guião, e começará no Jardim José de Lemos, seguindo até à Praça Velha. Além das colectividades do município, os protagonistas desta farsa carnavalesca são D. Sancho I (Rui Nuno, CENDREV), Augusto Gil (Vasco Queiroz), Alberto Dinis da Fonseca (José Neves, Teatro Nacional D. Maria II), a Ribeirinha (Adelaide Pinto), Joaquim Chamisso (Albino Bárbara), a Libaninha (Cristina Fernandes) e o Velho da Rectaguarda, a personagem mais céptica da “estória” da cidade. Os textos foram escritos por António Godinho e Rui Isidro, enquanto o galo será concebido por Pedro Figueiredo e Albano Martins. Kubik (Victor Afonso) produziu a música original e a selecção musical do espectáculo. A iniciativa é uma produção do Teatro Municipal da Guarda/Culturguarda, numa entre a Câmara e a Agência para a Promoção da Guarda.

Enterro do Entrudo em Famalicão

Famalicão da Serra recebe este ano, na noite de 4 de Fevereiro, o Enterro do Entrudo, numa perspectiva de reforço das «identidades locais do mundo rural e em defesa das manifestações mais tradicionais e genuínas do povo», refere a organização.

O projecto “Todos à Roda”, formado pelo Aquilo Teatro, Centro Cultural de Famalicão e Raiz de Trinta – Associação Juvenil, promove novamente esta produção, num contexto onde é, tradicionalmente, mais comum, promovendo um conceito de «maior participação e envolvimento comunitário espontâneo, onde a folia será a rainha da festa». Os promotores garantem ser este «o regresso da tradição de uma festa do povo, onde todos, sem condição ou classe social, são chamados a compartilhar e serem actores desta “invasão” festiva de Carnaval». O evento, além da cómica ritualização da exuberância humana, conta com a novidade da realização de uma comezaina de Entrudo, num desafio para quem quiser jantar com os foliões, antes do cortejo, transformando-se depois em actores. Os interessados só têm que se apresentar com «espírito e indumentária à época», reservando o seu lugar até 1 de Fevereiro, através dos contactos ccf@ccfamalicao.com, aquilo.teatro@sapo.pt, raizdetrinta@sapo.pt ou pelos telefones 961710068, 271.222499 e 966482853. No final do cortejo, a comezaina continua no espaço tasca “Pecado da Gula”.

Luis Martins

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