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Dois dias infernais no concelho do Sabugal

Município pondera solicitar estatuto de calamidade pública após incêndios da Ribeira da Nave e Quinta do Anascer

Centenas de hectares terão sido consumidos pelas chamas nos últimos dias na zona Sul do concelho do Sabugal. Os dados oficiais ainda não são conhecidos e deverão ser divulgados nos próximos dias, após as autoridades concluírem o levantamento da área ardida e dos prejuízos. O certo é que este final de Agosto vai ficar na memória das populações.

Entre domingo e terça-feira, vários focos de incêndio não deram descanso aos bombeiros no lugar da Ribeira da Nave e Quinta do Anascer, onde mais de 500 homens tentaram travar o fogo que chegou a ameaçar as aldeias de Casteleiro, Santo Estêvão, Sortelha, Terreiro das Bruxas, Urgueira, Alagoas, Aldeia de Santo António, Baraçal e Vila do Touro. Apesar da violência dos incêndios, atiçados pelo vento e condições atmosféricas quentes e secas, não se registaram vítimas nem arderam habitações, havendo apenas registo de animais mortos, arrecadações e alfaias agrícolas destruídas, bem como áreas de pinhal, carvalhos, castanheiros e pastos devastados pelas labaredas. Perante este cenário desolador, a autarquia do Sabugal anunciou que pondera solicitar o estatuto de calamidade pública e pedir ajuda ao Governo para fazer face aos prejuízos que vão afectar os agricultores da zona.

«Vamos fazer um levantamento exaustivo dos danos juntamente com as Juntas de Freguesia e só com base nessa avaliação decidiremos se pedimos a declaração de calamidade», disse o presidente da Câmara. Na noite de segunda-feira, no pico destes dois dias infernais, Manuel Rito foi mesmo obrigado a activar o Plano Municipal de Emergência perante a intensidade dos incêndios que naquela altura lavravam entre Sortelha e o Casteleiro, mas também em Vale de Espinho e na zona de Vila do Touro e Pega, já nos limites do concelho com o município da Guarda. Em declarações aos jornalistas, o autarca considerou ter havido «mão criminosa», uma suspeita que António Fonseca, comandante operacional distrital (CODIS) também não descarta. «A probabilidade de causas naturais nos incêndios de Ribeira da Nave e da Quinta do Anascer é muito baixa, já que eclodiram durante a noite», adianta.

Vários incêndios na Guarda, Pinhel e Mêda

O responsável admite que o pior já passou, até porque se prevê uma diminuição das temperaturas nos próximos dias, e que tem uma estimativa sobre a área ardida. No entanto, prefere não a divulgar por ser «uma tarefa» da competência da GNR. «É uma área muito grande que foi pasto das chamas devido à conjugação de vários factores. Além de acessos difíceis, vegetação muito densa e tempo quente e seco, a detecção dos fogos foi tardia, impossibilitando uma maior eficácia na primeira intervenção por os helicópteros não poderem actuar durante a noite», disse. O CODIS exemplificou mesmo que o incêndio da Quinta do Anascer surgiu quando «os bombeiros estavam empenhados na protecção de aldeias, como o Terreiro das Bruxas ou Casteleiro, e não podiam ser enviados para o monte. As pessoas não iam perceber isso». No entanto, António Fonseca não deixou de assinalar o facto das chamas terem rondado as aldeias e ameaçado várias habitações devido à falta de limpeza nas suas imediações. «Havia giestas e silvados paredes-meias com as casas, o que é uma grande irresponsabilidade dos proprietários», acrescentou.

Segundo dados da Autoridade Nacional da Protecção Civil (ANPC), os dois incêndios de Ribeira da Nave e Quinta do Anascer mobilizaram durante dois dias mais de 500 homens, a maioria dos quais vindos de Lisboa, Setúbal, Santarém, Portalegre, Évora e Castelo Branco na segunda e terça-feira. António Fonseca realçou ainda a actuação dos bombeiros do Sabugal, «que estiveram muito tempo na frente de fogo desde domingo». Em seu auxílio tiveram mais de uma centena de veículos e cerca de uma dezena de meios aéreos, com destaque para dois aviões bombardeiros Canadair espanhóis. O fogo de Ribeira da nave ficou circunscrito durante a madrugada de terça-feira, enquanto o sinistro da Quinta do Anascer foi dado como dominado a meio da tarde.

Agosto também se despediu com chamas em Videmonte (Guarda), Santa Eufêmea (Pinhel) e Coriscada (Mêda). Já em Sobral da Serra (Guarda) o fogo reactivou-se por três ocasiões, tendo levado ao corte temporário da A25 e da linha ferroviária da Beira Alta no domingo. Na segunda, as chamas rondaram a aldeia de João Bravo e chegaram à Quinta da Maúnça, onde consumiram parte de uma zona de mato deste espaço florestal pedagógico da Câmara da Guarda. A situação ficou controlada a meio da tarde, desconhecendo-se ainda a extensão da área afectada, mas houve reacendimentos nessa noite e na terça-feira.

Luis Martins Mais de 500 homens combateram as chamas desde domingo

Comentários dos nossos leitores
MadGomes magomes77@gmail.com
Comentário:
O que vai ser dos agricultores? Não vendem os produtos,o clima é adverso, os incêndios… Há portugueses a «morrer» de desespero e este governo abandonou-os.Portugal está um deserto.Que tristeza!
 

Dois dias infernais no concelho do Sabugal

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