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Do Passado e do Imaginário – Retalhos da memória de um povo raiano

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Regozijamo-nos quando tesouros são achados e mostrados ao público. Entre outros casos, tal acontece quando se conjugam duas situações: primeiro, alguém tem a atenção de recolher elementos da nossa cultura oral; segundo, esse autor recebe incentivos e apoios para tornar pública essa investigação.

Foi com muito gosto e entusiasmo que li Do passado e do Imaginário – Retalhos da memória de um povo raiano, uma antologia feita com notório carinho e cuidado por António João Ferreira Moreira, um colega da Escola Superior de Educação da Guarda, natural de Nave de Haver.

Este conjunto de contos e narrativas, como o seu autor as apelida, tem um valor absoluto pela tentativa – quanto a mim bem sucedida – de procurar a afirmação de identidade de um povo, desafiando os alegados constrangimentos da interioridade. Afinal no interior também se cria, também se sente, também se fantasia… À fantasia desenhada neste livro acresce a coragem antiga, de sabor telúrico, a dureza das serranias da zona da raia e dos seus habitantes que legendariamente jamais soçobraram sob o peso da adversidade.

O autor optou por fazer uma recolha de histórias, que animavam os serões de algumas décadas atrás, e apresenta-as em duas partes. Num primeiro momento, o mais extenso, viajamos até ao Conta-se que antigamente. Aqui ouvimos histórias do fantástico e do real, do quotidiano prenhe de agruras e de muita capacidade de crença. A Tê Quinhas, o Ti Estêvão, o Zézinho e outras personagens expressam-se de um modo muito particular. O seu discurso é recriado com um precioso cuidado, facto que confere um intenso colorido local, especialmente àqueles leitores que têm a possibilidade de reconhecer de forma imediata este modo de falar. São histórias de contrabando, de emigração ou até de acontecimentos quotidianos naturalmente embrenhados com o sobrenatural.

Num segundo momento, Era uma vez, recuamos até aos tempos de infância para recuperarmos o imaginário das histórias de encantar e dos contos de embalar. Ao menos, ainda que por breves instantes, acreditemos na verdade de uma mensagem que tantos, cheios de si mesmos, pretendem descredibilizar.

Para terminar, felicito a valentia do autor e aconselho, de facto, os leitores a conhecer um pouco mais das nossas raízes, das fardos e das misérias de um povo suportadas por uma força inabalável. Se desejarem, poderão contactar o autor via e mail (ajmoreira@ ipg.pt) para uma eventual disponibilização da obra.

Por: Carla Ravasco

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