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Depois de lutar contra a modorra…

Ladrar à caravana

… do tédio dos debates entre os senhores candidatos a um emprego no Estado, com contrato de cinco anos, renováveis por mais cinco, com direito a algumas convenientes mordomias e a uns fretes igualmente jeitosos (ter de reunir todas as semanas com o primeiro-ministro, por exemplo), dos tempos de antena telejornalísticos, das campanhas de rua e de anfiteatro, penso que se pode sintetizar o pensamento e o tom de muitos apoiantes, amparantes, autocolantes, apologistas, apóstolos e mandatários, todos tão empenhados na campanha:

“O meu candidato é o melhor candidato. Ainda ontem quando atravessava a praça do município, aqueles que estavam entrevados, levantaram-se e andaram em direcção à luz. Depois, em visita ao centro de apoio a crianças desprotegidas duas crianças cegas de súbito viram o ser em todo o seu esplendor. À noite, no jantar de homenagem, qual alquimista transformou os palitos em finos fios de ouro. Aqueles que desesperavam em descrença, têm agora a auto estima restaurada e partiram à descoberta de novos mundos. Aqueles que esmoreciam em dificuldades vêm agora a farta abundância ao alcance da mão. O meu candidato cura mazelas e varizes. O meu candidato cheira a rosas. O meu candidato não é um porco ranhoso como o teu candidato.” “”E pronto. Já posso dormir descansado, pois penso ter compreendido as mensagens sóbrias, equilibradas, profundas e realistas que tenho visto, lido e ouvido um pouco por todo o lado. Assistimos portanto ao triunfo da embalagem. Não pela funcionalidade do produto mas pelo look. A estética do fútil transbordou do xópingue-center para a comunicação política. A percepção, a tomada de decisão, condicionadas pelo merchandising, pelos óculos de magnífico design do Sr. Dr., pela fatiota de excelente corte do Sr. Professor, pelo charme do mandatário fadista, rapper, atleta ou gaja boa. Placebos de várias cores, formatos e sabores garantem a ilusão do pluralismo. Digamos que a democracia já está madura. Mas a começar a deitar um cheiro um pouco forte…

Este texto, produzido num momento de total falta de ideias (o que é perfeitamente normal em mim), baseia-se nuns bocados de prosa que fanei do blogue dum grande amigalhaço, o Zé Manel Fonseca, conhecido nos círculos mais íntimos como o Anarca Constipado. É só por causa daquelas coisas dos cópirráites e dos plágios… plagiei, sim, mas com autorização do autor. E se a conversa que tivemos ao telefone não foi gravada, então os tipos do Ministério Público andam a dormir na forma.

Por: Jorge Bacelar

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