Arquivo

Da morte

Bilhete Postal

Não pisarei mais os jardins Não correrei nas avenidas largas Não sentirei a chuva na cara Não me levantarei destes lençóis E tu ufana em torno à minha vida Como se me prendesses aqui. O paladar já foi, o tacto desintegrou-se, O sexo – não ficou para se despedir. Deixa-me ir que não voo mais Deixa-me partir que não ando outra vez Deixa-me só. Lutas por mim Mais que me empertiguei com a minha vida E assim me prendes entre tubos Frascos estranhos Exames infindos E incómodos gestos, Desumanos movimentos. Tudo me dói, Tudo me aborrece. Eu terminei E o que é estranho É que estou seguro Consciente e nada apreensivo. Eu sei que me findo E aborrece-me que o impeças Quando não tenho força de contrariar. Deixa-me. Quero que a morte chegue E me veja preparado, Enamorado dela. Morro se me deixares Porque cheguei ao fim E não quero que me impeças Com a tua arrogante ciência. Não apreciarei os estorninhos, Não amarei mais ninguém. Assim, com as tuas ajudas, Custa-me mais morrer.

Por: Diogo Cabrita

Sobre o autor

Leave a Reply