A criação de uma rede de cuidados continuados tem a sua justificação nos custos das camas hospitalares, no envelhecimento da população, na falência da família como suporte assistencial, na indefinição que moralmente somos incapazes dos limites da actuação médica. Que caminho escolher? Que recursos podemos disponibilizar para esta questão mais social que médica?
No distrito de Coimbra há várias unidades hospitalares e duas são hospitais centrais que têm uma capacidade instalada muito cara para ser dispendida em assistência ao idoso acamado.
Os hospitais precisam drenar estes doentes e assim surge uma oportunidade de negócio. Os negócios não são forçosamente um caminho perverso e a contratualização de serviços externos foi, e é uma prática comum nas instituições de saúde. Porque seria perverso o outsourcing dos cuidados continuados? Ele garante qualidade? Ele garante assistência condigna? Se a resposta é afirmativa para que necessita o Estado de aumentar as suas camas e impedir o negócio dos privados?
Em Coimbra temos hoje uma proliferação extraordinária de camas para cuidados continuados. A Cáritas e a Unidade de Saúde de Coimbra representam 250 camas disponíveis. A ARS reage a isto criando mais trinta nos Covões – no lugar exacto onde fechou a creche – e em Cantanhede preparam-se mais 50 camas. Fala-se que os HUC vão lançar a sua própria unidade. Uma total ausência de discussão, de conversa entre os parceiros contribui para este processo de indefinição pouco saudável para um processo que trata de doentes e de esperanças em qualidade de vida. Mas esta é a imagem do momento, surdos a dialogar com mudos e gente sem qualquer curiosidade nas soluções que outros podem acrescentar. A característica é o autismo e por esse motivo prevejo situações difíceis para todos. As novas trinta camas dos Covões não vão diluir a capacidade instalada que no presente avaliam as outras mais de trezentas e por essa razão serão cuidados continuados caríssimos. Mas ninguém se interroga da estratég ia escolhida? Ninguém aqui tem dúvidas?
Por: Diogo Cabrita
