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Critério e diferenciação

Bilhete Postal

Ouvi-o criticar o tipo que agrediu um fulano por aquele gritar na rua com uma amiga que ele nem sabia exatamente de onde vinha a proximidade, mas que entendeu naquele momento que tinha de honrar a pessoa amiga insultada por um desconhecido. Assim, José valeu a argumentação da irracionalidade da agressão, a estupidez da violência, desta brutalidade do pontapé e do soco atribuídos de modo gratuito e intempestivo. Criticou as agressões em geral, a de Sá Pinto ao selecionado Artur Jorge, a do João Pinto a um árbitro do Mundial, a do Cardoso ao Jorge Jesus. Era José, um “portista ferrenho”, um fervoroso crente na mestria do FCP e, portanto, nunca viu agressões feitas por gente do norte, nunca percebeu se o murro no Jorge Costa foi à traição, nem viu o Jorge agredir o outro, nem as agressões de Paulinho Santos. A visão fanatizada e incoerente tem estas graças. José saiu do carro quando o polícia o mandou parar e, abeirado deste, agrediu a autoridade. “Autoridade uma bosta!”, gritou frenético. Não sopro nada, não tinham que me parar. Basta vir a Lisboa e os mouros roubam, os magrebinos assaltam. José, o pouco coerente, que criticava as agressões ao sul, acabava de zurzir um polícia. O “homem do Norte” zangado, pulava, bramia, insultava, esbracejava, zurzia uma e outra vez. Isto não é uma agressão, é um ato de justiça, é uma lavagem da honra. Por tudo isto eu, que tudo testemunhei, aprendi que há agressões justas e outras menos, há violência justificável e outra não, há brutalidade “educativa” e outra que é bizarra. Até o facto de ser ao norte ou ser ao sul, o facto de ser em Lisboa ou no Porto faz critério e diferenciação.

Por: Diogo Cabrita

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