A intervenção dos Bancos Centrais na passada quarta-feira teve como objectivo estancar a actual crise dos mercados financeiros. Se a vida dos Bancos Centrais já não estava fácil com as pressões inflacionistas, por um lado, e a ameaça de uma recessão, por outro, a crise financeira nos mercados internacionais, que se tem vindo a adensar, torna o cenário ainda mais ameaçador.
A incerteza em relação à situação financeira dos bancos, em resultado da crise no mercado hipotecário americano, tem dificultado o seu acesso a financiamento no mercado interbancário. Isto é, os investidores mostram-se muito relutantes em emprestar dinheiro aos bancos porque não conhecem verdadeiramente a situação das suas contas. De facto, os contornos desta crise só serão conhecidos, na sua verdadeira dimensão, no início do próximo ano, quando os maiores bancos americanos e europeus (tornarem públicas) publicarem as suas contas. Os Bancos Centrais tentam assim garantir aos bancos o financiamento que estes não conseguem obter directamente nos mercados financeiros. Todavia,, a recente intervenção dos bancos centrais (pareceu indicar) sinalizou que o impacto da crise financeira deverá ser muito maior do que inicialmente se esperava.
O efeito mais visível das dificuldades de financiamento actualmente sentidas pelos bancos é o aumento das taxas de juro, nomeadamente da Euribor – a taxa de juro de referência para o crédito à habitação em Portugal e em muitos países europeus.
Dado o seu elevado nível de endividamento, uma questão que se coloca neste momento é quais poderão ser os efeitos do aumento das taxas de juro para as famílias portuguesas. A recente subida das taxas de juro pode ser perigosa porque acontece numa altura em que o desemprego é elevado (e não dá sinais de diminuir) e o crescimento económico é (débil) muito fraco. Numa palavra, não se espera, num futuro próximo, um aumento significativo do rendimento das famílias.
O aumento das taxas de juro envolve ainda riscos significativos porque a quase totalidade dos empréstimos em Portugal tem por referência uma taxa de juro variável, o que expõe as famílias portuguesas a choques externos, como aquele que actualmente afecta a economia mundial.
Apesar dos riscos que existem actualmente para as famílias portuguesas mais endividadas, convém (sublinhar) referir alguns dos aspectos benévolos desse elevado endividamento. Por um lado, é importante referir que mais de 70% desse endividamento resulta de crédito para comprar habitação. Por outras palavras, é crédito para adquirir um activo, e trata-se, por isso, de um investimento que vai gerar um retorno por um período que pode ser superior a 50 anos. Esse endividamento, ao contrário do que muitas vezes se diz, é perfeitamente racional e benigno. Poder comprar casa a crédito, mesmo quando se é muito jovem, é sinal de bom funcionamento dos mercados financeiros portugueses e é bom para o bem-estar dos consumidores Por outro lado, o não cumprimento do pagamento destes créditos à habitação só se torna um verdadeiro problema para as economias quando coincide com a queda de preços (das casas) naquele mercado, o que pode tornar o valor da dívida das famílias superior ao valor do activo. Esse é o grande problema da actual crise no mercado hipotecário americano e a grande ameaça para a vizinha Espanha. Em Portugal, felizmente, até agora, não há sinais nesse sentido.
Por: Fernando Alexandre