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Mensagem talvez de amor!

Fui à Associação de Beneficência Augusto Gil para obter uma informação. Enquanto esperava, observei algo de enternecedor.

Ouvi as vozes de crianças e o seu típico barulho. Vi-as sair de um corredor, de mãos dadas e de par em par acompanhadas pelas senhoras auxiliares, guiando-as para o salão de refeição. Estava na hora do seu lanche (não escrevo a palavra refeitório por ser muito pesada para eles). Passaram por mim algumas dezenas, umas riam-se, outras diziam-me adeus e outras com olhar de interrogação, como quem diz: o que é que este velho está aqui a fazer?

Fiquei a observá-las através das vidraças que nos separavam. Pouco a pouco foram-se aconchegando às suas cadeirinhas e mesinhas, pareciam pardalitos nos ninhos de uma árvore num jardim.

Fiquei olhando para a beleza total deste quadro, em pleno movimento e buliçoso, todos eram diferentes, mas a natureza fê-los todos da mesma maneira. Toda a mulher que está na situação de não saber o que há-de fazer no início da gestação, se há-de ou não deixar rasgar as suas entranhas, basta vir aqui e ver o resultado de uma relação, que pode ter os seus custos e os seus sacrifícios, mas que irão compensar ao vermos algo de nós no meio destas pequeninas vidas.

Todos nós devemos ser responsáveis por eles. Todos nós devemos ser os degraus desses pardalitos para poderem saltitar de um em um até levantarem voo.

Estava eu com estes pensamentos quando um pardalito me acena e parte das suas mãozitas um pedaço de pão ou bolo a oferecer-me do seu lanche. Nesse momento, os meus olhos humedeceram e disse-lhe adeus, porque me estavam a chamar para dar a resposta à pergunta que eu tinha feito (…). E assim vim embora, com a alegria de ver um Portugal novo que estava a nascer.

Que Deus os proteja.

António Nascimento, Guarda

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