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Corta!

E para os que se queixam de apenas aqui se falar de filmes que dificilmente se conseguem ver em salas de cinema por perto, hoje ficam três propostas actualmente em «exibição» na mais acessível das salas de cinema: o clube de vídeo.

A mais refrescante dessas propostas parece surgir directamente do inicio dos anos 60, quando o Cinemascope e as cores berrantes eram marca de todo e qualquer filme, e a dupla Rock Hudson e Doris Day eram um dos mais «apetecidos» e divertidos casais de Hollywood. Sem nunca esconder o seu propósito de quase-imitação «Down With Love – Abaixo o Amor», é a tipica ( e aqui a palavra típica é para ser entendida literalmente) comédia romântica onde o centro de tudo passa pela luta de sexos. Onde Homem e Mulher se julgam sempre independentes, superiores e com o objectivo supremo de nunca virem a precisar de amor ou sexo até ao fim dos seus dias. Tanta ingenuidade só poderia mesmo virar comédia. Em «Abaixo o Amor» encontramos a dupla Ewan McGregor e Renneé Zellweger, tal qual Spencer Tracy e Katherine Hepburn, em lutas constantes, num registo deliciosamente despretensioso, muitas das vezes piscando o olho ao musical, e a toda uma forma de actuação, mais visível e forçada, que só poderia dar maus resultados mas que, surpreendentemente, neste caso, não poderia ficar melhor. Para dias quentes como estes, será difícil encontrar proposta mais sedutora que esta.

Continuando na rota do amor para dias quentes, uma sugestão que traz consigo alguma neve natalícia. A estreia na realização de Richard Curtis, argumentista de «Quatro Casamentos e Funerais» e «Notting Hill», com «O Amor Acontece», parece querer englobar em si todas as histórias de amor possíveis. Ao querer ir a tudo, «O Amor Acontece» não consegue em nenhum momento dedicar-se o suficiente a cada uma das suas histórias, demasiadas, acabando assim por ser um filme que confunde ligeiro com ténue. Nada fica. Tudo passa sem que o espectador consiga prender-se a nenhuma das personagens. Restando apenas a possibilidade de vermos alguém que parece imitar o nosso agora primeiro-ministro. Uma pena.

Mas há outros amores possíveis. Sem humor cor-de-rosa. Nas margens. Feito por gente real. Por alturas da sua estreia, há uns bons meses atrás, «O Verão de Victor Vargas» (na foto) transformou-se desde logo coqueluche de uma imensa minoria. A fazer lembrar «Kids» de Larry Clark, mas sem tudo aquilo que nesse não fazia falta nenhuma, há uma genuinidade e uma ingenuidade contagiantes. Sorrisos apaixonados que apaixonam. Vidas desinteressantes que nos conseguem cativar.

Por: Huho Sousa

cinecorta@hotmail.com

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