A Guarda é um dos cerca de 20 scriptorium espalhados pelo país onde qualquer um pode copiar manualmente um excerto da Bíblia. A iniciativa começou no último fim-de-semana e vai decorrer nos próximos dois, até dia 21, na escola Adães Bermudes, junto ao Centro Distrital de Solidariedade e Segurança Social. A afluência foi «surpreendente» no primeiro dia, confessou Juliana Martins, uma das responsáveis pela iniciativa na cidade, onde os copistas são chamados a transcrever os capítulos dedicados aos Coríntios, 1º Coríntios, Judas, Pedro e Daniel. «Mas podem ser mais, tudo depende da afluência das pessoas», refere.
Teresa foi uma das participantes no sábado. «Apenas por curiosidade», admite esta guardense, que, ao passar por perto, resolveu entrar e «ver como era escrever um pouco da Bíblia». Satisfeita a curiosidade, Teresa, «que só tinha cinco minutos», lá foi à sua vida, mas «satisfeita espiritualmente». A sua amiga, Maria Eduarda, de Manteigas, gostou da parte que lhe coube copiar, pois fazia referência a elementos da Natureza, «pelos quais tenho muito apreço, já que sou uma defensora acérrima do meio ambiente», confessa. De resto, considera a iniciativa importante, pois permite às pessoas tomar um contacto mais directo com a Bíblia, que mais não é para ela que um «relato histórico». Definições à parte, Maria Eduarda entende que esta aproximação até pode ser útil numa altura em que «se vêem tantos livros sobre a história de Cristo». Segundo Juliana Martins, as mulheres foram as mais participativas no primeiro fim-de-semana da “Bíblia Manuscrita”, vêm depois os jovens, mas por lá passaram «pessoas de todas as classes sociais e idades, bem como os escuteiros», refere, destacando as cópias inaugurais do Governador Civil, Joaquim Lacerda, e do vice-presidente da Câmara da Guarda, Álvaro Guerreiro. As suas impressões do acontecimento ficaram registadas num livro de opiniões, a par de outras, mais sentidas, como a de Isabel Matias, para quem «a sabedoria passada de mão em mão tem outro gosto, outra importância».
A “Bíblia Manuscrita” foi alargada à sociedade civil depois de ter contado com a participação de quase 50.000 alunos e funcionários de 200 escolas desde Março deste ano. Trata-se de um projecto da Sociedade Bíblica de Portugal, em parceria com o Secretariado Nacional de Educação Cristã e o Secretariado Diocesano de Ensino Religioso, que pretende levar as pessoas a conhecer melhor o que está na Bíblia. «Muitas vezes nós temo-la em casa mas não a lemos, daí a ideia de a escrever à mão porque é uma forma de compreender um pouco o que está na Bíblia, de saber a mensagem que ela nos revela», adianta a responsável, que destaca a originalidade do resultado final ser formado por uma «miríade de caligrafias e de marcas de diversas pessoas, o que é fantástico». De resto, numa espécie de posfácio desta obra monumental, que dará origem a dezenas de milhares de páginas em 10 a 15 volumes a expor na Biblioteca Nacional, em Lisboa, lá estarão os nomes das pessoas que copiaram, o respectivo capítulo e a cidade de origem. Mais tarde, a Sociedade Bíblica enviará um certificado de participação para selar o acontecimento.
Luis Martins