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Combate ao crime violento contra as pessoas no topo da lista da PJ da Guarda

Oito novos inspectores, que deverão chegar já na próxima segunda-feira, vão ajudar a fazer face ao alargamento a todo o distrito de Castelo Branco

O combate ao tráfico de estupefacientes, a criminalidade económica e contra as pessoas, são algumas das prioridades de Mário Bento, novo coordenador da Polícia Judiciária da Guarda. De resto, os crimes violentos contra as pessoas, como os homicídios e o abuso sexual de crianças, têm vindo a registar um preocupante aumento nos últimos anos. Satisfeito com a mudança para as modernas instalações e com a chegada de oito novos inspectores, o novel director do Departamento de Investigação Criminal (DIC) da Guarda reconhece que o possível alargamento de competências a todo o distrito de Castelo Branco pode ser entendido como um «prémio» pelo trabalho desenvolvido.

Apesar de conhecer «mal» a Guarda, Mário Bento garante vir com o «máximo de disponibilidade para ajudar a resolver os problemas que surjam», sublinhando ter aceite um cargo que acarreta «responsabilidades acrescidas». Para alcançar os objectivos a que se propôs, o novo director da PJ da Guarda congratula-se por ter vindo encontrar uma equipa de trabalho que considera estar «completamente unida» em volta da sua pessoa, não tendo notado «nenhuma situação anómala». Recorde-se que o novo coordenador veio da Direcção Central da Polícia Judiciária em Lisboa para substituir Leitão dos Reis, afastado em meados de Setembro na sequência de desentendimentos de ordem pessoal com o inspector-chefe Manuel Portugal. Sobre este assunto, Mário Bento prefere não tecer quaisquer considerações e diz até «desconhecer» o que se passou, assegura. Em relação aos principais tipos de crime a combater na região, o coordenador da PJ da Guarda indica que eles surgem divididos em três «grandes áreas»: tráfico de estupefacientes, criminalidade económica e criminalidade contra as pessoas. De resto, no pouco tempo que está na Guarda, o director já constatou que os crimes violentos contra as pessoas, «típicos da interioridade» ocorrem «um pouco por todo o lado» na área de actuação do DIC da Guarda.

«Pelos elementos que tenho recolhido, dá a impressão que a tendência é de alguma persistência e nessa medida é uma situação que me preocupa. Vamos ter reforços de oito novos funcionários e essa é uma área que vou reforçar», adianta. Este tipo de crimes, mormente homicídios ou tentativa de homicídios, são normalmente da competência reservada da PJ porque «exigem uma grande disponibilidade de pessoas», pelo que os oito novos inspectores, com chegada prevista para a próxima segunda-feira, vêm na melhor altura. Trata-se de um reforço de pessoal só possível pelas novas instalações, uma vez que as antigas «não comportavam mais gente». Actualmente, o DIC da PJ da Guarda dispõe de 17 inspectores, dois inspectores-chefe e um coordenador. Quanto ao tráfico de droga, também competência reservada da PJ, é outro campo «a apostar» numa zona transfronteiriça.

Mário Bento adianta que vai haver curto prazo uma «reorganização» das competências territoriais do DIC da Guarda, que vai passar a abranger a zona de fronteira «num prolongamento mais para baixo, provavelmente a apanhar Castelo Branco», revela. Contudo, esta é uma situação que continua em estudo. «Julgo que está para breve, mas ainda não tive “feed-back” de que a coisa esteja por dias», reconhece. O possível alargamento a toda a área de Castelo Branco vai trazer «muito mais trabalho» à PJ da Guarda, em virtude do distrito vizinho ser uma zona «muito problemática em termos de intensidade da criminalidade», salienta. Ainda assim, o director da PJ da Guarda mostra-se agradado com esse trabalho, na medida em que «se está a reconhecer algum mérito ao trabalho do DIC da Guarda», daí que este alargar de competências possa ser visto como um «prémio». Recorde-se que actualmente a única delegação da PJ instalada no interior do país integra as comarcas de Almeida, Celorico da Beira, Covilhã, Figueira de Castelo Rodrigo, Fornos de Algodres, Fundão, Gouveia, Guarda, Mêda, Pinhel, Sabugal, Seia, Trancoso e Vila Nova de Foz Côa.

Queixas de abuso sexual de crianças com aumento significativo em 2003

No que toca a números, só este ano, a PJ da Guarda já deteve 54 indivíduos, dos quais 30 ficaram em prisão preventiva, tendo sido apreendidas 17 gramas de heroína e 1,163,23 gramas de haxixe. Foram ainda apreendidos 16 automóveis, seis imóveis, 10 armas e 7.646 euros. Já no Relatório de Actividades de 2003, entre os crimes contra as pessoas, os mais participados foram os de homicídio consumado, 11 contra 9 em 2002 e 4 em 2001, em conjunto com o de homicídio tentado, 13 contra 3 em 2002 e 2001. Mário Bento considera que o homicídio é um «fenómeno estrutural. Quanto mais isolamento há, mais as pessoas têm este tipo de quezílias, tentando resolver as coisas pelas suas próprias mãos», diz. Outro crime contra as pessoas que foi muito participado no ano transacto foi o de abuso sexual de crianças, adolescentes e dependentes. Assim, em 2003 foram participados 22 crimes, enquanto que em 2002 e 2001 se registaram apenas seis e duas participações, respectivamente. Entre os crimes contra o património, existem muitos como os furtos que passaram a ser competência da PSP e da GNR, sendo o furto e viciação de veículos o crime mais participado (14 em 2003 e 18 em 2002). Quanto aos crimes contra a vida em sociedade, destaque para a participação de incêndio por fogo posto em florestas e searas (404 em 2003 contra 76 em 2002 e 45 em 2001) e para incêndio por fogo posto (36 no ano passado, 15 em 2002 e oito em 2001). De destacar ainda a passagem de moeda falsa (com 122 casos participados em 2003, 109 em 2002 e 127 em 2001) e o tráfico de estupefacientes (31 em 2003, 26 em 2002 e 47 em 2001).

Ricardo Cordeiro

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