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Cinema cosmopolita na Serra

Últimos dias para ver a impressionante programação do Cine Eco 2003

A falta de apoios oficiais marcou sábado a cerimónia de abertura oficial da nona edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Ambiente da Serra da Estrela, em Seia. Lauro António, director técnico, lamentou a situação, enquanto Carlos Teófilo, director executivo, agradeceu ao município senense por ter evitado que o Cine Eco 2003 tivesse «ficado pelo caminho». Mas o descontentamento também se estendeu a Marciano Galguinho, vice-presidente da autarquia, que reafirmou o «empenhamento» da Câmara de Seia para garantir, «apesar de tudo», a continuidade do único festival dedicado ao ambiente em Portugal. A mostra termina domingo.

A noite esteve quase a ser dominada pelas queixas, não fosse a ironia espirituosa do humorista Raúl Solnado, que teve um auditório da Casa Municipal da Cultura repleto para assistir ao seu espectáculo “Conversas à Solta”, baseado no percurso da sua vida de actor, ao longo de meio século. O actor é o presidente honorário do júri do festival e tema de um ciclo com alguns dos filmes em que participou, como “Vamos Contar Mentiras”; “Há Petróleo no Beato”, “Baton”, “Dom Roberto” e “Conto de Natal”. O Cine’Eco, que decorre nas três salas da Casa Municipal da Cultura (cine-teatro, grande e pequeno auditório), para além dos filmes a concurso, conta com várias secções temáticas, das quais se destacam “Outras terras, outras gentes”, “Cinema Português”, “Aventura e Fantasia”, “Infantil: Animação”, “Uma cidade no Cinema: Coimbra”, “Clássicos de Terror da Universal”, “Clássicos do Ambiente”, “Recordando Bucha Estica”, “A Guerra no Cinema” e ainda um pequeno ciclo de homenagem (a título póstumo) a Camacho Costa. A organização não esquece aquele que foi um dos grandes amigos do festival e apresenta uma pequena retrospectiva de trabalhos seus no cinema e na televisão que integra “O Ilheu de Contenda”, “Cães Sem Coleira”, “Telefona-Me!”, “Manhã Submersa”, “O Testamento do Senhor Napomuceno” ou “Os Malucos do Riso”.

A nona edição do festival prolonga-se até dia 19 e contará com a participação das últimas produções, inéditas em Portugal, dos realizadores Luís Sepúlveda, Diogo Meza, Jean Rouch, Chantal Akerman e Agnés Varda, com o seu novo filme “Deux Ans Aprés”. Nomes de relevo num leque impressionante e cosmopolita de trabalhos vindos da Alemanha, Arménia, Áustria, Bélgica, Belize, Birmânia, Bolívia, Brasil, Bulgária, Burkina Faso, Canadá, Chile, Escócia, Eslovénia, Espanha, EUA, França, Georgia, Grécia Guiné Bissau, Holanda, Índia, Inglaterra, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Letónia, Macedónia, Mali, Namíbia, Noruega, Polónia, Porto Rico, Portugal, Roménia, Rússia, Sérvia, Suécia, Suíça e Tunísia. Os vencedores das diversas categorias, com destaque para a Campânula de Ouro, símbolo do Cine Eco, serão conhecidos no sábado à noite durante uma cerimónia que contará com um concerto de jazz pelo Quarteto POST T, no cine-teatro, da Casa Municipal da Cultura. Com um orçamento curto de 300 mil euros, quase totalmente suportados pela autarquia local, a edição deste ano registou um recorde de inscrições e de países representados, o que é revelador da importância do festival no contexto internacional. Concorreram perto de 400 filmes oriundos de mais de 40 países, dos quais foram seleccionados cerca de 100. «Para a edição do próximo ano, temos já 80 filmes a concurso», revelou Lauro António.

Luis Martins

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