O Serviço de Imunohemoterapia do Centro Hospitalar da Cova da Beira (CHCB) iniciou na semana passada uma nova técnica de recolha de sangue com o intuito de conseguir uma «maior autonomia de plaquetas», uma das componentes do sangue. Com o aumento das intervenções cirúrgicas e o acréscimo dos tratamentos quimioterápicos nos doentes onco-hematológicos, a necessidade de sangue e dos seus derivados torna-se cada vez mais premente nos hospitais portugueses.
Com a nova técnica de recolha de produtos hemoderivados, a aférese de plaquetas, o Serviço de Sangue do CHCB – o único na região que possui dadores – pode obter uma «grande quantidade de plaquetas com um só dador», explica Jorge Martinez, director daquele serviço. «No sistema tradicional são precisos sete dadores para um só doente. Com esta nova máquina é possível com um só dador conseguir essa mesma quantidade para um só doente», completa o médico espanhol que se encontra neste hospital há dois anos e a dirigir aquele serviço desde Março passado. Além disso, a máquina permite retirar apenas 150 mililitros de sangue ao invés dos 450 retirados no sistema normal, visto que só a componente das plaquetas é retirada do dador. «A recolha é feita através de um “kit” específico de aféreses de um único dador, pelo facto do sangue sair, entrar no sistema da máquina e voltar a entrar no corpo do dador», explica o director do Serviço de Imunohemoterapia. O processo, apesar de parecer complexo, até é bastante simples.
Deitado numa cama, o dador está ligado à máquina através dos braços. Um para retirar o sangue e o outro para o voltar a receber. O sangue retirado entra na máquina para um sistema de centrifugação que separa as suas componentes. Só as plaquetas ficam no saco estéril, o sangue restante volta a entrar no corpo do dador. A única diferença em relação ao método tradicional refere-se à ingestão de aspirinas ou anti-inflamatórios: «A toma destes tratamentos uma semana antes da dádiva inactiva a capacidade funcional das plaquetas», adverte Jorge Martinez. O único “inconveniente” para o dador é que esta máquina demora cerca de uma hora a mais que o sistema tradicional (que tem uma duração de 5 a 10 minutos). Por isso mesmo é que os glóbulos vermelhos (outra das componentes do sangue) vão continuar a ser retirados pelo método normal. «Demora muito mais, mas não me senti cansado», disse Tomás Oliveira, de 28 anos, após ter experimentado a nova técnica de recolha de plaquetas, embora tenha confessado logo de seguida que até cansava «um pouco estar muito tempo na mesma posição». Fora isso, sentia-se «bem». Dador há dois anos, esta foi a primeira vez que doou plaquetas. Mas o sentimento da dádiva continua igual ao método tradicional: «Sinto-me bem ao doar sangue e saber que posso estar a salvar muitas vidas», salientou, explicando ter passado a ser dador «por intermédio de um amigo». Os mesmos argumentos serviram ainda para convencer outros dois amigos a serem dadores. «Agora podemos não precisar de sangue, mas, no futuro, até pode acontecer e vamos querer que nos ajudem nessa altura», sublinhou.
Liliana Correia