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Cavaco

bilhete postal

O que acho mais triste em todo o mês de Dezembro é o ramalhete de candidatos à Presidência da República. Preocupa-me não haver um Constâncio, um Oliveira Martins na área do PS, um Marcelo Rebelo de Sousa na área social-democrata. Preocupa-me a inexistência de gente elegível com cinquenta anos. Nem sei se é preocupação se desilusão ou mesmo tristeza. Não sou desse discurso de que não há pão nesta padaria. Aqui há tudo como em todo o lado e há abafadores de talentos alheios, e há tipos que controlam vontades e há máquinas horríveis de gente fraca que de facto originam produtos medíocres.

Cavaco Silva foi o maestro de Leonor Beleza, a inesquecível fabricante de casos em Saúde, a embaixadora da exclusividade e dos gastos exponenciais do sistema. Ele foi o fabricante de empregos de Estado, o criador da figura do “assessor do assessor do secretário do Ministro”. Haja Deus se não se lembram. E as Comissões de nada fazer e tudo gastar como a AIEPS, geridas por secundárias figuras sem brilho para além das próprias Comissões. No Cavaquismo surgiram os “estilos de vida saudáveis” e a luta contra a SIDA, que aumentou sempre. Houve estradas a que faltava metade, como a de Póvoa/Vila do Conde, que ninguém investigou. Estradas de todos os perigos como as IP4 e 5. O reinado das despesas nasceu naquele tempo. O que pagamos hoje é a ineficácia de Guterres e a má gestão de Cavaco, passando pela mal esclarecida governação de Durão Barroso. Mas vamos votar em quem? Vamos estar na eleição contra? Manuel Alegre foi vítima da última crónica e não merece mais espaço. Veio para perder e cair definitivamente.

Mário Soares choca pela teimosia em não sossegar. Escandaliza pelo regresso de quem podia estar de helicóptero neste momento. Mário Soares vem para afrontar e provocar, o que, tendo em conta a idade, é notável. Eu que não consigo ver a graça de Louçã e tenho alergia ao Partido Comunista, só fico com um candidato possível. Soares, não sendo a escolha em que gostaria de votar, é a alternativa que me resta. O paladar amargo do gaspacho acompanha esta escolha. É internacional, é diferente e é um ícone. Vou ter mesmo de votar Soares.

Por: Diogo Cabrita

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