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Capeia dos pequeninos para que a tradição não esmoreça

Os mais novos substituíram os adultos no forcão numa iniciativa inédita na Lageosa da Raia

Este ano, fez-se história na Lageosa da Raia, palco da primeira “capeia dos pequeninos”. No passado dia 3, poucos dias antes da abertura oficial da época desta peculiar lide de touros na zona raiana, os mais novos substituíram os adultos no forcão e não deixaram ficar mal a tradição.

A iniciativa fez parte do cartaz das festas daquela aldeia do concelho do Sabugal, onde todos os anos, a 6 de agosto, se realiza a primeira da dezena e meia de capeias raianas programadas para este mês. E teve objetivos didáticos e telúricos: «O que se pretendeu foi fazer crescer o espírito já enraizado no ADN destes miúdos para que a capeia tenha um futuro mais promissor, porque todos eles têm uma relação muito forte com esta tradição, nem que seja de forma empírica», justifica João Cláudio Madalena, da organização. Por outro lado, pretendeu-se também fomentar a aprendizagem das novas gerações e a sua «aculturação aos pressupostos» da capeia. Neste caso, tudo aconteceu à escala de gente com idades entre os seis e 12 anos: um forcão mais leve (cerca de 80 quilos, quando normalmente pesa mais do dobro) e três bezerras de peso diferente. «A primeira foi a mais pequena, mas à escala deles representa o touro à escala dos adultos», garante João Cláudio Madalena.

À chamada responderam 15 a 20 jovens, entre os quais meia dúzia de raparigas, o que, para João Cláudio Madalena, significa que «elas começam a entrar no santuário dos homens». Nas bancadas, pais, familiares e conterrâneos apoiaram esta primeira experiência e incentivaram os mais pequenos a enfrentar as bezerras. Este aficionado espera que a experiência se repita nos próximos anos na Lageosa da Raia e até nas aldeias vizinhas onde este acontecimento tauromáquico movimenta multidões e gera paixões vividas com intensidade. Na sua opinião, «a capeia tem que ser encarada num todo da região», pelo que sugere a criação de «uma entidade supra-freguesias para ensinar técnicas aos mais novos e todo o contexto e as características desta tradição». João Cláudio Madalena acredita também que esta iniciativa «não rouba a intensidade do momento iniciático em que os rapazes pegam à galha pela primeira vez e se afirmam como adultos perante a comunidade». Pelo contrário, acha que este contacto permite apreender e aperfeiçoar a técnica de pegar ao forcão.

De resto, o lageosense sublinha que «tudo é pouco» para evitar que a capeia raiana perca o fôlego atual, reconhecendo que «é preciso incentivar sempre para que a tradição possa despertar nos mais novos». Até porque «se não houvesse capeias, as pessoas não ficavam tanto tempo nestas aldeias. De 6 a 25 de agosto há uma verdadeira temporada com iniciativas que prendem as pessoas nesta zona», recorda João Cláudio Madalena.

Este ano, a praça foi dos mais novos durante uma tarde

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