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Campo de Batalha de S. Marcos é Monumento Nacional

Fundação Batalha de Aljubarrota já assegurou animação cénica e multimédia para futuro centro de interpretação

O campo da Batalha de S. Marcos, situado a Sul da vila de Trancoso, já foi classificado como Monumento Nacional por homologação recente da ministra da Cultura, Maria João Bustorff. Nesse sentido, a autarquia celebra hoje com a Fundação Batalha de Aljubarrota um protocolo de cooperação para a recuperação, requalificação e valorização do Terreiro da Batalha. A cerimónia vai decorrer no auditório do Pavilhão Multiusos da vila e conta com a presença do presidente da Fundação de Aljubarrota, Alexandre Patrício Gouveia, e Simoneta Luz Afonso, da mesma instituição, para além do director regional do IPPAR de Castelo Branco, José Afonso.

António Oliveira, vice-presidente da Câmara de Trancoso, reconhece a importância deste acordo, pois da cooperação com a Fundação depende «a recuperação e valorização do campo associado à Batalha de Trancoso» e a construção de um Centro de Interpretação daquele acontecimento histórico. De resto, a recente homologação da classificação como Monumento Nacional do Campo da Batalha de Trancoso «é como se fosse mais uma batalha vencida», ironiza o vice-presidente, considerando que aquela área vai ser «um importante pólo de atracção turística» para Trancoso. «Este reconhecimento vem valorizar a importância da batalha e da vila na História de Portugal», sublinha António Oliveira, adiantando que esta oportunidade permitirá promover um roteiro histórico-cultural com base nos locais onde supostamente decorreu a guerra da independência durante a crise de 1383-85. Nesse sentido, através da cooperação conjunta e do desenvolvimento de programas, a autarquia e a Fundação reconhecem que poderão contribuir de «forma relevante» para a recuperação e dignificação de S. Marcos.

O Centro de Interpretação da batalha previsto para aquele local, às portas de Trancoso, dispõe de um elevado grau de qualidade pedagógica para dignificar o episódio histórico em que os portugueses expulsaram os castelhanos, deixando-os a «pão e laranjas», rezam as crónicas. O acordo prevê a classificação dos possíveis achados arqueológicos, que deverão ficar expostos no Centro de Interpretação, cujo projecto vai ser elaborado em articulação com o IPPAR. Segundo António Oliveira, a Fundação de Aljubarrota «já celebrou um protocolo com uma empresa holandesa especializada» para prestar serviços audiovisuais e multimédia ao Centro de Interpretação, com vista à animação cénica e multimédia naquele espaço. Este protocolo releva de um processo iniciado pelo Estado-Maior do Exército, juntamente com uma memória descritiva da Fundação Batalha de Aljubarrota, que assumiu a preparação das propostas de classificação. O terreno em causa «já está protegido e vai ficar assim até o processo estar concluído», explica José Afonso, do IPPAR, para quem o planalto de S. Marcos é tão importante como o de Aljubarrota, «ambos com grande significado para a independência nacional».

A ideia é dar-lhe a mesma valorização histórica num projecto que será conjugado com o município de Trancoso e outras entidades. Para José Afonso, trata-se de um factor de «regozijo para todos nós» e especialmente para a vila de Bandarra, porque, além de ser mais um monumento classificado na Beira Interior, «vem valorizar e divulgar ainda mais a Aldeia Histórica». O Centro de Interpretação Histórica, que vai nascer com este protocolo, irá permitir perceber como tudo aconteceu em 1385, através, nomeadamente, da simulação da batalha e das explicações aos visitantes da sua importância na História de Portugal. Esta infraestrutura permitirá ainda efectuar pesquisas arqueológicas que facilitem um melhor conhecimento daquele terreno e pôr a descoberto eventuais vestígios da refrega junto à capela de S. Marcos, onde ainda hoje se realiza uma romagem de comemoração a 29 de Maio, feriado municipal de Trancoso.

A pão e laranjas

Recorde-se que a Batalha de S. Marcos foi travada nesse dia em 1385 e considerada pelos historiadores como uma das mais importantes da História de Portugal. É ainda encarada como o prenúncio da decisiva Batalha de Aljubarrota, a 14 de Agosto do mesmo ano, que consolidou a autonomia do país, entregando definitivamente a Coroa Portuguesa ao heróico Mestre de Avis, D. João I. Segundo reza a lenda, a contenda deixou os castelhanos “a pão e laranjas” e ainda hoje esses produtos são distribuídos às crianças das escolas locais, simbolizando o estado dramático em que ficaram os castelhanos. Apesar da inferioridade em armas e homens, os portugueses saíram vencedores de uma luta que, segunda a história, foi renhida. «Os golpes eram tão grandes e espessos que se ouviam em Trancoso», conta Fernão Lopes, na “Crónica de D. João I”, e apesar da superioridade numérica dos castelhanos, «foram vencidos e mortos todos os homens de armas não escapando nenhum, salvo alguns ginetes e pajens. Os capitães foram todos mortos, ficando apenas Pêro Soares de Quinhones para contar o feito», escreveu o cronista.

Patrícia Correia

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