Está fora de questão a construção de um parque de estacionamento subterrâneo na Praça Velha. Tanto a Câmara da Guarda como a sociedade PolisGuarda descartam essa possibilidade, numa altura em que a Associação Comercial da cidade desenterrou a ideia e exigiu a criação de um silo-auto no “coração” do centro histórico no âmbito das obras de reabilitação urbana da praça, a iniciar nos próximos dias. O projecto, que não passou das intenções, tem quase cinco anos e foi chumbado por maioria na Assembleia Municipal, onde os deputados recearam sobretudo os danos que o empreendimento poderia causar à Sé e impediram a autarquia de avançar com os estudos geológicos e de viabilidade do empreendimento.
Passados estes anos, os comerciantes da zona histórica da Guarda, que também estiveram contra o silo-auto da Praça Luís de Camões, defendem agora o contrário e reclamam a construção de um parque de estacionamento subterrâneo de 300 lugares, o dobro dos existentes actualmente em superfície naquele local e que serão eliminados com a requalificação da praça. Segundo José Carlos Santos, vice-presidente da Associação Comercial da Guarda (ACG), «não houve um debate suficiente sobre a situação», tendo os comerciantes reprovado «desde o início» a intervenção na Praça Velha por não contemplar alternativas ao estacionamento. «Mais uma vez, a Guarda está a cometer um segundo erro, semelhante ao que aconteceu aquando da construção do edifício da actual Câmara Municipal, que não contemplou parque de estacionamento. Entretanto, outras cidades, como a Covilhã, Castelo Branco e Viseu, conseguiram criar essas infraestruturas e ultrapassar alguns dos seus problemas. É esta falta de visão estratégica que faz com que a Guarda continue a marcar passo», lamenta o dirigente. Chegou por isso o momento de recuperar o tempo perdido e aproveitar a intervenção na Praça Velha para «equacionar agora essa hipótese», porque «faz falta um parque de estacionamento subterrâneo no centro histórico da Guarda», sublinha José Carlos Santos.
A «morte» do comércio na zona histórica
O vice-presidente da ACG avisa que os associados que representa estão «insatisfeitos» com esta opção e receiam que as obras venham a demorar «imenso tempo a concretizar», para além de porem fim a uma zona de estacionamento central: «Não podemos estar a pensar em estacionamentos no cemitério para servir a zona comercial», garante, acrescentando que os comerciantes ponderam tomar outras medidas, a anunciar oportunamente, para «travar, dentro do possível», uma situação «que vai prejudicar gravemente, senão matar, o comércio nesta zona histórica». Lembrando que a ACG cumpriu com a sua parte no âmbito do Urbcom, a associação gostaria de ver agora a autarquia «resolver» a questão das acessibilidades ao centro histórico, entre as quais está o estacionamento. O dirigente cita mesmo um técnico do município que integra a comissão de estudo de alternativas ao estacionamento – que não identificou – quanto à «falta de alternativas e de planeamento» na cidade para reiterar que «a solução passa pela criação de um parque de estacionamento subterrâneo na Praça Velha».
Quem não comunga desta posição é o vice-presidente do município. Álvaro Guerreiro recorda que a Assembleia Municipal já tomou uma decisão e deliberou que a autarquia devia procurar alternativas. «É nesse sentido que estamos a trabalhar e oportunamente apresentaremos uma solução válida para obviar a esse problema», promete. Também António Saraiva, director-executivo da PolisGuarda, defende que a haver soluções elas devem ser encontradas na envolvente do centro histórico. «Ao criarmos um parque de estacionamento em plena praça Luis de Camões, poderíamos ter outros problemas já identificados por técnicos da área do trânsito, como uma maior afluência de pessoas a que corresponde um aumento da densidade de tráfego no centro da cidade. Outra dificuldade é que os estudos ali efectuados apenas consideram possível um silo-auto de dimensão pouco significativa», adianta o arquitecto, para quem a autarquia mantém a intenção de avançar com os estacionamentos subterrâneos no apoio ao centro da cidade e ao centro histórico. «A solução passa por aí, há alternativas e terá que se dar andamento a esses projectos», sublinha, admitindo que o acesso e estacionamento na zona da Praça Velha vão estar «um pouco complicados» com as obras. «Mas temos que pensar que é uma situação temporário e que vai haver alternativas, seja no Jardim José de Lemos, na Avenida dos Bombeiros ou mesmo no espaço posterior da Sé», sugere António Saraiva.
Luis Martins