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Caça, floresta e desenvolvimento

Nos Cantos do Património

Aberta a época de caça, inúmeros grupos de caçadores, com as suas famílias, rumam em direcção à Beira Interior. A maioria instala-se em unidades hoteleiras ou em unidades de turismo rural. Deste modo, a caça constitui um dos factores de desenvolvimento da região. No entanto, se for descontrolada pode levar ao “massacre” de alguma fauna como aconteceu no final da Idade Média. Nesta época, algumas espécies animais que povoavam os bosques da Beira Interior, como o Zebro, extinguiram-se enquanto outros, como os ursos, os lobos, os linces e os veados, se refugiaram em zonas de montanha quase inacessíveis.

Com efeito, na Idade Média a caça foi uma das causas da extinção de alguns animais na Beira Interior, no Alentejo e em Trás-os-Montes, regiões apetecidas pela aristocracia e pelos monarcas para as suas frequentes caçadas. Aliás, eclodiram, mesmo, diversos conflitos entre os grandes senhores da nobreza, que criavam coutadas de caça em montes do domínio dos concelhos do interior, e a população concelhia que obtinha uma parte substancial da sua subsistência da caça praticada nos montes comunais.

O avanço da colonização para os espaços incultos, fazendo recuar os matagais e os bosques, foi outra das causas importantes do desaparecimento ao destruir os habitats dos animais que, certamente, tornavam as nossas florestas animadas. As extensas clareiras alastraram como fogo em palha seca e tornaram-se permanentes no final da Idade Média. Os terrenos de cultivo e os pastos devoraram paulatinamente as florestas e os matagais na mesma proporção a que se multiplicava a população. A necessidade de novos arroteamentos e a necessidade de combustível provocou o fim das florestas onde se abrigavam diversas espécies de animais selvagens. O fogo fez o resto. Desapareceu o urso, o lince, o lobo, o gato bravo, o cabrito-montês, o veado, o gamo, o zebro e reduziu-se sobremaneira a população de raposas, javalis e coelhos.

Das florestas centenárias que abrigavam uma fauna diversificada, hoje pouco ou nada resta. Sobraram as paisagens desoladas, os montes despidos, apenas semeados de penedos graníticos que escaldam no verão e gelam no Inverno. Alguns resquícios da floresta antiga foi, apesar de tudo, preservada entre os penedos em zonas escarpadas onde nem o fogo conseguia chegar.

Neste início do século XXI em que os campos e montes voltam a estar cobertos de matagais, regularmente carbonizados pelos incêndios, não é fácil antever o regresso das espécies selvagens que outrora povoaram a Beira Interior. Talvez ainda se possa voltar a ver o lobo, o javali, o gamo ou o veado nas matas e nas poucas florestas do interior. Outros desapareceram para sempre como o urso e o zebro. No entanto, animais como a lebre, a perdiz ou o javali começam a ser abundantes no interior do país proporcionando boas oportunidades de caça. O desenvolvimento turístico desta região passa, também, pela exploração desse recurso.

Por: Manuel Sabino Perestrelo

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