O IIIº Congresso Nacional da Urgência, organizado pelo Núcleo de Estudos de Urgência e do Doente Agudo da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, decorreu este mês em Coimbra, tendo focado, como um dos temas, o problema do “burnout” na classe médica e a sua relação com o serviço de Urgência. As conclusões corroboraram a ideia geral nos profissionais de saúde: o trabalho em serviço de Urgência é um fator propiciador de “burnout” em todas as suas dimensões. Os médicos na Urgência sofrem mais de exaustão emocional, de despersonalização e têm uma sensação de menor realização profissional.
O Dr. João Porto, presidente do Congresso e médico internista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), foi ainda mais longe ao afirmar que os médicos que têm sido colocados em instituições hospitalares, exclusivamente em serviço de Urgência, têm tendência para procurar outras opções de trabalho. Portugal será dos poucos países ocidentais onde qualquer utente, seja qual for a sua queixa, mesmo não necessitando de qualquer cuidado imediato e por mais ténue que seja, é obrigatoriamente visto por um enfermeiro e por um médico. Mesmo que seja para dizer que as queixas não são motivo de urgência. Ora, recusar-se a reformar um sistema que todos já reconheceram como obsoleto e não adaptado nem aos recursos disponíveis nem às necessidades dos doentes, é desejar o colapso de todo o sistema de Saúde.
Em 2016, a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos apresentou um estudo inédito sobre o “burnout” na classe médica. Concluiu-se que 40,5% dos médicos apresentaram um nível alto de exaustão emocional, indicador de “burnout”. Os resultados também sugerem que os médicos que trabalham regularmente na Urgência apresentam níveis mais elevados de Exaustão Emocional e Despersonalização e menores níveis de Realização Profissional, quando comparados com médicos que não trabalham regularmente na Urgência.
Este é um dos problemas mais importantes que está a atingir os profissionais de saúde. Estranhamente o Ministério da Saúde mantem-se silencioso e indiferente deixando agravar a situação. Se nada for feito, será todo o sistema de Saúde que irá a entrar em “burnout”.
Por: Carlos Cortes
* Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos